quinta-feira, dezembro 28, 2006

A fina sintonia

Raramente nos damos conta do quão frágeis nós somos. Nosso corpo é uma máquina intrincada, com milhões de partes e engrenagens. E poucas vezes, ou poucos de nós, passamos por doenças realmente sérias. A questão não é porque temos tantas doenças, e sim, por que não temos MAIS doenças?

Que nossos corpos passem a maior parte do tempo funcionando bem, isso sim é algo próximo a um milagre. É simplesmente muita coisa que pode dar errado e no entanto não é o que acontece - nossa biologia certamente não segue a Lei de Murphy. Claro, praticamente todos têm algum problema ou outro, mas em 95% do tempo estamos bem. Agora, é só aparecer uma dor de estômago (ou "estongo" como dizem alguns) para a gente esquecer de todo o resto e se concentrar na dor. E só então nos damos conta do pouco que é necessário para nos tirar do combate.

Que uma pequena pílula possa combater essa dor, ou que possa alterar completamente nossa percepção ou até mesmo nos matar, isso me parece ainda mais fascinante. Compare nosso tamanho com a de uma cápsula e reflita um pouco sobre isso. Mas nada é mais impressionante do que perceber que coisas muito, mas muito menores, podem nos fazer muito mal: são milhões e milhões de espécies de vírus e bactérias e seres afins, prontos para nos detonar ao mínimo sinal.

E a medicina, apesar de todos avanços, ainda sabe muito pouco. Não conseguimos explicar até agora como a maior parte das drogas psicotrópicas funcionam (prozac, valium , anti-depressivos e etc.). Estamos ainda engatinhando.

Tudo isso para dizer que há algumas semanas passei muito mal, com dores horríveis e diarréia. Tenho certeza que vocês não querem detalhes do tipo quantas vezes fui ao banheiro ou como certamente bati o recorde mundial de volume de flatulência por minuto. Basta dizer que tive que pedir a minha irmã que me levasse ao hospital de madrugada. Sim, certamente lá eles saberiam aliviar minha dor. Que nada! Não fizeram nenhum exame, somente a tradicional consulta (anamnese é o nome que os "doutores" usam) e um pouco de apalpação (existe?) na barriga.

Me botaram numa sala com umas 5 senhoras tomando soro, me deram Buscopan na veia e soro fisiológico pois eu já estava desidratado. Uma hora depois a dor retornou com força total e a doutora simplesmente olha minha ficha, preparada por outra médica, e me avisa que minha "disenteria" não é de origem infecciosa ou algo assim. Bom, mas então vem daonde? E qual a solução? "Espera que passa". Extremamente reconfortante e sofisticado! Com todo avanços, não conseguem tratar uma dor de barriga. Voltei pra casa com dor e passei mais uns 4 ou 5 dias "ca**ndo água" como definiu com muita elegância um amigo meu.

Moral da história: da próxima vez vou rezar para pegar uma pneumonia ou sífilis, que pelo menos têm um tratamento mais sofisticado do que "espera que passa".

O poder da Música


“A vida sem música é simplesmente um erro, cansaço, exílio.”
Friedrich Nietzsche


(Escrito em 24/02/2006, em Buenos Aires)

Estou caminhando sozinho pela Calle Florida, no centro de Buenos Aires. São 23 e 30 e a rua está quase deserta. Estou ouvindo música no meu iPod, uma música dos Stereophonics, que é belíssima, “Handbags and Gladrags”. É um cover na verdade, mas isso não importa.

E no entanto, apesar de estar frio e ser tarde, umas 12 pessoas estão paradas ouvindo um homem solitário cantando “I Started a Joke” com sua guitarra e seu mini amplificador. Eu quase parei, mas já estava ouvindo uma música muito boa. Agora mesmo parei de escrever por uma meia hora porque comecei a ver uns clipes do Franz Ferdinando e do U2 na MTV local, bandas que vou assistir na próxima quinta (2/mar). E ver esses shows foi justamente o motivo de minha viagem.

Antes disso, estava no show dos Stones, com mais 70 mil pessoas no estádio do River. Quase morri esmagado e sem ar mas valeu cada um dos R$ 60.000 centavos. Ao fim do show, já exausto e quase desmaiando com o budum a minha volta, olhei para as pessoas atrás de mim – e eram muitas pois eu estava simplesmente espremido na grade. Estavam todas felizes, cantando junto ou apenas olhando o show com uma pura expressão de felicidade no rosto.

E no meio deste show já estava pensando em como a música tem esse poder fantástico de reunir dezenas de milhares de pessoas para ouvir 4 marmanjos (velhacos?) tocando. Mas que velhacos! Como pode? Como pode ser tão impactante? Tudo bem que eles são apenas uma das maiores bandas do mundo, mas mesmo assim impressiona. E aposto como 99% das pessoas não tinham idéia alguma sobre o que Ráguer (é como os “hermanos” pronunciam Jagger, pois eles falam todas línguas com a pronúncia deles, óbvio) cantava.

A música, até certo ponto, independe da língua ou do significado das letras, como qualquer um que faça um “enrolation” de vez em quando pode saber. A melodia, o ritmo, a levada da música já indicam muito sobre o que a música quer dizer, elas refletem um estado de espírito. Por exemplo, usando os Stones: Satisfaction é uma música de levada rápida, com poucos acordes e poucas mudanças de melodia, é uma música agitada, pra cima. Já Angie tem uma levada de balada, com acordes mais sombrios - ela começa com um Lá menor, sendo que os acordes menores geralmente induzem a um sentimento mais melancólico do que os acordes maiores.

Outro aspecto que atrai multidões para esses shows é o fator “celebridade”, a chance de ver ao vivo pessoas que geralmente só são vistas em clipes e sites. A cultura da celebridade é algo típico de nossa era. Talvez só no âmbito da religião existam fenômenos similares. Não é por nada que shows já foram comparados à celebrações religiosas.

O melhor show que vi na vida foi do Coldplay, em São Paulo, em 2003. Fui pra lá numa excursão de ônibus organizada pela Ipanema, bate e volta. Fora o fato de que eu quase não conseguia andar de tão chapado com a fumaça que infestou o ônibus durante toda viagem, foi tudo maravilhoso. E foi como estar numa missa, foi catártico, intenso. Todas pessoas cantavam juntas todas as músicas, o que até surpreendeu o Chris Martin. E para mim aquilo foi o mais próximo de uma cerimônia religiosa que eu já vi, com a diferença de que não fui obrigado a comer uma bolacha que é literalmente o corpo de uma pessoa, por mais absurdo que isso seja.

No final, a música talvez seja tão universal e poderosa porque faz parte de um instinto, um instinto mais básico do que a linguagem, algo que surgiu antes de qualquer língua. Qualquer bebê entende a linguagem universal da música. Todas culturas humanas conhecidas conhecem, criam e apreciam músicas. Os estilos mudam, os formatos evoluem, mas a música em suas mais diversas manifestações permanece e nos emociona.

Eu mesmo já tive bandas. Também não saio de casa sem meu Ipod e estou sempre cantarolando algum som. Não consigo viver sem música. Por isso, só posso reforçar e atualizar o que Nietzsche já disse há muito tempo: a vida sem música seria um saco.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Simplesmente Amor



Normalmente não choro vendo filmes. Quem já me acompanhou no cinema sabe disso. Agora, me acontece muito de entrar um cisco no olho bem nas cenas mais sentimentais. É um problema que tenho.

Essa é a cena inicial do filme Simplesmente Amor (Love Actually, no original, que significa "Na Verdade, Amor"). A tradução está no post logo abaixo.

Para mim, esse filme é apenas regular, digamos um 7,5. Mas essa cena específica permaneceu na minha memória como a mais impactante de todo filme.

Assista, e você entenderá porque. Na Verdade, Amor, cada vez que a revejo entra um cisco no meu olho, dos bem grandes, que é bem difícil de tirar.

Por que? Porque é verdadeira, é praticamente um documentário, mostrando pessoas reais recebendo pessoas amadas num aeroporto. Cenas que acontecem todo dia, mas muito mais no Natal e no Fim de Ano. E que são a mais perfeita tradução do que é Amor, com A maiúsculo.

A cena significa muito para mim também por um motivo bem pessoal. Me lembra de meu primo Fábio, que viveu vários meses em Londres e depois fez uma volta ao mundo, entre outubro de 2001 e dezembro de 2002.

O Fábio era praticamente um irmão para mim, fomos sempre muitos ligados. Infelizmente, e essa é uma palavra muito fraca pra descrever o que aconteceu, o Fábio faleceu em junho de 2004. Como acontece com todas pessoas que amamos quando nos deixam, isso teve um impacto devastador sobre mim e mudou a forma como vejo o mundo.

Amo o amor, e amo as pessoas que amo. Sempre vou lembrar dele, não importa o que acontecer. E ao ver essa cena é como se eu estivesse o recebendo mais uma vez, depois de um longo tempo.

Claro que isso nunca mais vai acontecer. Mas certas pessoas especiais perduram em nossa memória, não importando o pouco ou muito tempo que passamos com elas.

Todos dias que passam penso nele, e sempre sua falta é mais forte nos momentos em que reunimos toda família, como vai acontecer logo mais.

Só posso lembrar dele, e agradecer por ter feito parte de minha vida.

Obrigado Fábio, meu irmão.

Feliz Natal e Feliz Ano Novo adiantado a todos.

Tradução da cena inicial de Simplesmente Amor

"Sempre que eu fico deprimido com o estado do mundo, eu penso nos portões de desembarque do Aeroporto de Heathrow (Londres). A opinião geral está começando a sugerir que nós vivemos em um mundo de ódio e ganância, mas eu não vejo assim. Parece para mim que o amor está em todos lugares.

Frequentemente ele não é particularmente enaltecido ou motivo de notícia, mas está sempre lá - pais e filhos, maridos e mulheres, namorados e namoradas, velhos amigos. Quando os aviões atingiram as Torres Gêmeas, até onde eu sei, nenhum dos telefonemas das pessoas a bordo foram mensagens de ódio ou vingança - foram todas mensagens de amor. Se você olhar bem, eu tenho uma sensação de que você vai se dar conta de que o amor, na verdade, está em todo lugar."

Voz de Hugh Grant

domingo, dezembro 17, 2006

Porque precisamos de relacionamentos (e ovos)


Eu amo Woody Allen. Quer dizer não ele exatamente, mas os filmes dele. Tem um filme que revi outro dia, "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977), uma tradução simplesmente ridícula para o nome original "Annie Hall" - que é nome da principal personagem, interpretada por Diane Keaton. Como todos outros filmes dele, fora os da fase em que fez filmes dramáticos a maneira de seu ídolo Ingmar Bergman, este é muito engraçado.

A história gira em torno do relacionamento entre Woody Allen e Diante Keaton, que aliás foi mulher de Allen. No final, eles acabam se separando.

Cerca de um ano após terem se separado, eles se reencontram para uma conversa "na boa". Após rever sua ex-namorada e conversar com ela sobre tudo que aconteceu, Woody Allen fala que foi muito bom ter revisto Annie e que vendo ela, lembrou de uma piada:

"Tem esse cara e ele vai pro psiquiatra e diz:

- Doutor, o meu irmão está louco, ele acha que é uma galinha.

Então o doutor diz:

- Bom, então porque você não interna ele?

- Eu até internaria, mas eu preciso dos ovos.

Bom, eu acho que é bem isso que eu sinto sobre relacionamentos. Você sabe, eles são totalmente irracionais, e loucos, e absurdos... mas, ahn, eu acho que a gente continua insistindo neles porque, ahn, a maioria de nós precisa dos ovos."

Achei simplesmente genial. A piada é muito engraçada, e o que ele diz faz sentido. Muitas vezes os relacionamentos parecem sem sentido e absurdos. Mas não temos como viver sem eles, a vida seria muito cinza sem os altos e baixos de qualquer relacionamento. E quanto mais profunda a relação, mais temos razões para vê-los como irracionais.

Acontece que no fundo, os relacionamentos têm uma lógica própria e não são nem mais nem menos irracionais que qualquer comportamento humano. A verdade é que homens e mulheres brigam, pensam e agem de forma diferente, mas não conseguimos viver um sem o outro. A razão principal para isso naturalmente é o instinto de perpetuar a espécie - outra forma de dizer que somos obcecados por sexo, e que não conseguimos passar um dia sem pensar nisso, quer dizer, desde que eu fiz sete anos nunca consegui passar um dia sem viajar nessa história. Mas isso é outra história.

E afinal, preciso dos ovos.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Calcinhas e revoluções sociais



As últimas aparições de celebridades sem calcinha me preocuparam muito. Vejam vocês mesmo as fotos no post anterior e reflitam. Não me preocupa pelo fato disso ser mais um sintoma da degradação moral do mundo, de que "os jovens estão perdidos", ou de que "no meu tempo não existia isso". Tudo isso já sabemos e não tem mais volta. Aliás, felizmente eu diria, ou senão como eu conseguiria fumar "unzinho" (Marlboro, suas mentes poluídas!) sem ser incomodado aqui no banheiro de onde eu trabalho?

O que me preocupa mesmo é se essa moda chega às mulheres "comuns", como aquela sua vizinha gostosa ou, pior, aquela velha gorda do 701. Sim, imaginem as conseqüências desastrosas para nossa vida em sociedade:

- A produtividade da economia, já em baixa, cairia a níveis dramáticos. Isso naturalmente porque os homens não conseguiriam mais se concentrar no trabalho tendo aquela colega boazuda sentada na sua frente com uma saia mais fina e transparente do que um papel de pão. Pensem só em quantas vezes as canetas cairiam no chão, ou quantas vezes a tomada apresentaria problemas forçando a pessoa a se esgueirar por baixo da mesa. E as mulheres então! Não ficariam quietas até descobrir quantas celulites tem a boazuda aquela, para depois ficar horas no corredor comentando com as amigas: "Vocês nem sabem: ela também tem celulite!! E além disso, não se depila!! Que horror."

- A indústria de calçados seria obrigada a mudar completamente o estilo das tênis e sapatos masculinos, inclusive abolindo por completo os chinelos. Por quê? Todos calçados teriam superfícies espelhadas especialmente projetadas para não distorcer imagens. Os mais pobres teriam que se contentar com uma gambiarra, amarrando pequenos espelhos a seus calçados. E no verão, como chinelos não comportam superfícies espelhadas, teríamos que usar sapatos fechados causando surtos epidêmicos de fungos e um cheiro insuportável de chulé no ar, forçando todos a usar aquelas máscaras de doente. Pelo lado das mulheres, veríamos o surgimento de aparatos sofisticados para contrabalançar esse novos sapatos, como espelhos contra-reflexivos e proteções óticas polarizadas que só deixam passar a luz em uma direção.

E estas são apenas algumas das conseqüências imediatas. Nem quero pensar em outros efeitos e nas turbulências políticas e sociais, incluindo possíveis constrangimentos no mandato da governadora Yeda aqui no RS.

Enfim, como sempre, há uma lógica por trás desse novo comportamento feminino. Sim, meu caro, sempre há uma lógica no comportamento feminino, embora poucas vezes os homens entendam, e muitas vezes as mulheres não saibam explicar - porque muitas vezes simplesmente não há explicação.

Não, elas não querem chamar a atenção e deixar homens babando por todos os lados. Estão simplesmente cuidando da sua saúde, pois usar calcinha faz mal. Vejam o post abaixo para mais informações. O resumo é que médicos afirmam que usar calcinha é prejudicial à saúde, e que certas áreas precisam estar sempre arejadas. E quem sou eu para discordar da ciência?

Assim, novamente conclamo as mulheres a aderirem o mais depressa possível a essa moda, evitando assim muitas doenças. E enquanto o futuro não chega, eu, por via das dúvidas, já adaptei meus sapatos.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Atenção Mulheres: Usar calcinha faz mal!!


Esta semana fiquei sabendo de uma notícia que precisa ser divulgada imediatamente a todas mulheres: usar calcinha faz mal. Quem diz não sou eu e sim médicos renomados. Para ver a reportagem completa, clique aqui.

Assim, está explicado o comportamento estranho de muitas celebridades que expuseram suas partes "muy" íntimas ultimamente (Britney Spears, Paris Hilton, Juliana Paes, Adriane Galisteu). Naturalmente, nenhuma delas esperava obter publicidade gratuita e apenas tiveram um momento de descuido. Já Freud diria que nada é por acaso.

Agora falando sério: o que que têm essas mulheres? Fogo no rabo? Hiper aquecimento das partes pudendas? Preguiça de vestir? Preguiça de tirar? Bom, só sei que se eu fosse mulher não ia ficar querendo expor certas intimidades anatômicas ao léu. Mas fato é que, independente das motivações, só tenho a apoiar esse movimento e conclamar todas mulheres a aderirem agora mesmo a essa prática tão saudável.

Espalhem esta notícia a todos seus contatos, familiares, amigos e desconhecidos.

Veja o principal trecho da matéria. E de cortesia, segue a foto da Adriane Galsiteu. E não, eu não tenho a imagem sem a tarja. Mas tem um pessoal no Terra que tem. Mais informações favor depositar R$1.000 na minha conta :)

"O ginecologista José Bento afirma que calcinha realmente faz mal à saúde. Segundo o médico, a calcinha, principalmente as de materiais sintéticos e com forros muito grossos, impedem a ventilação do local e aquecem a região, o que acaba promovendo a proliferação de bactérias e fungos no aparelho genital e, consequentemente, o surgimento de infecções e corrimentos. Há ainda mulheres que são alérgicas a determinados tecidos, o que prejudica ainda mais a saúde do aparelho sexual.

Além de doenças sexuais, como a candidíase, o uso de determinados tipos de calcinhas podem provocar o aparecimento de varizes e celulite. Isso é o que afirma o ginecologista José Bento. Mas para que esses efeitos aparecerem, o elástico da região da virilha tem que estar muito apertado."

"A saia não foi criada à toa", diz o dr. José Bento apoiando a atitude das famosas. "As mulheres realmente precisam arejar a região genital". Para ele, um hábito saudável é dormir sem calcinha. "Não há vantagem nenhuma em usar calcinha para dormir. Tudo é uma questão de costume".

segunda-feira, novembro 27, 2006

Religiosos = loucos?

Ultimamente tenho me irritado cada vez mais com as religiões (como o post anterior bem demonstra) e hoje transcrevo uma passagem de um livro que para mim resume muito do que penso, e do que muitas pessoas pensam mas têm vergonha de admitir. Segue abaixo:

"Nós temos nomes para pessoas que têm muitas crenças para as quais não existem justificativas racionais. Quando as crenças delas são extremamente comuns, nós as chamamos de "religiosas"; caso contrário, geralmente as chamamos de "loucas", "psicóticas" ou "delirantes".

Para citar um exemplo: Jesus Cristo - que, como se sabe, nasceu de uma virgem, enganou a morte e subiu fisicamente aos céus - pode agora ser comido na forma de uma bolacha. Com algumas poucas invocações feitas à um cálice cheio de vinho, também é possível beber seu sangue. Há alguma dúvida de que se apenas uma pessoa acreditasse nessas coisas ela seria considerada louca?

Os perigos da fé religiosa é que ela permite a seres humanos normais colherem os frutos da loucura e os considerarem sagrados."


Além de muito engraçado, é real. O autor é Sam Harris, um cientista especializado em neurociências, que escreveu alguns livros contestando crenças religiosas, livros que estão na lista de best-sellers nos Estados Unidos e deveriam ser traduzidos. Outro best-seller do momento é "A Ilusão de Deus" (The God Delusion), de Richard Dawkins, brilhante cientista e advogado de todos ateus do mundo. Para saber mais veja (links em inglês): crítica do livro de Sam Harris e texto de Dawkins no site edge.org

E continuo minha cruzada!!! Ayouuuu Silver!!!!

terça-feira, novembro 21, 2006

Sobre religião e spammers

ATENÇÃO: se você se ofende facilmente com opiniões contrárias às suas e com xingamentos, pare agora!!

Eu avisei hein! Não quero saber de reclamações depois.


Minha visão sobre religião (e spammers)

Embora ninguém tenha pedido, chegou a hora de expor alguns pensamentos meus sobre religião. Na verdade, pouca coisa do que eu vou expor aqui é original, assim como 99% do que eu escrevo e do que qualquer pessoa escreve (veja PS para mais sobre esse tema).

Aliás, a principal motivação para este post ligeiramente mal humorado e irônico são as porras de spam que eu recebo quase todo santo dia falando que Deus me ama, que vai acontecer um milagre às 3:52 horas da manhã se eu encaminhar a mensagem pros meus 17.673 amigos e coisas do gênero.
Como diria um amigo meu (o que geralmente quer dizer que eu disse isso, sabe aquela velha história que "aconteceu com um amigo de um amigo"?): quero que esses cornos de spammers vão todos à PUTA QUE PARIU [pronunciar no estilo Hermes e Renato, abrindo bem a boca e desferindo claramente cada sílaba: COOOOR-NOS, PUUU-TA QUEEE PA-RIUUUU!] . Pronto, desabafei :)

Mas voltanto ao assunto, vamos lá.

Resumindo: todas religiões (sem exceção) são promotoras do ódio, do preconceito e de tudo que de ruim existe nesse mundo. Tá bom, exagerei um pouco, mas é mais ou menos isso (mais pra mais que pra menos). Tenho nojo principalmente das "grandes 3": cristianismo, islamismo e judaísmo.

Ponto 1: cada uma delas e qualquer religião tem convicção de que ela, e só ela, está certa, e as outras estão todas erradas. Como isso é uma impossiblidade lógica, a conclusão natural é que todas estão erradas. Abomino todas elas.

Ponto 2: praticamente todas religiões se baseiam na crença de alguma força superior (geralmente conhecida por Deus) que criou o mundo e vê tudo que acontece e manda um monte de gente pro inferno. Além disso, algumas acham que ele é um cara barbudo. Na verdade muito parecido com o Papai Noel. Na verdade, é apenas uma versão mais rídicula do Papai Noel, já que ninguém com mais de 7 anos acredita no Papai Noel, mas um monte de gente grande acredita em Deus (barbudo, claro). O porquê disso é algo que me foge (tenho algumas teorias mas deixo pra outra hora).

Bom, crianças, cheguem mais perto que vou contar um segredinho: Deus não existe.

Tudo bem, assim como acreditar em Deus é uma questão de fé, não acreditar também é, porque não há como provar cientificamente nenhuma dessas duas posições. Como sou cético,
é preferível ficar com a versão mais simples. Acredito no princípio da Navalha de Occam: se existem duas explicações para um fenômeno, e as duas explicam satisfatoriamente este fenômeno, mas não há como provar qual está certa, é melhor ficarmos com a explicação mais simples, mais elegante, que envolva menos passos duvidosos. E é simplesmente mais fácil e belo explicar o universo sem recorrer a uma explicação teológica. Afinal, o homem criou Deus, e não o contrário.

Por hoje é só pessoal. Outra hora vou explicar melhor porque uma visão do mundo sem Deus ou qualquer coisa do gênero é muito mais bela e fascinante (e correta).

E quem me conhece sabe que sou uma pessoa alegre e de bem com a vida, ao contrário do que possa parecer a alguns pela leitura desse post. Apenas tenho opiniões fortes sobre quase tudo, desde a guerra no Iraque até os implantes de silicone - a saber: sou a favor (dos implantes, claro) mas ainda precisam evoluir pra ficar mais reais. Não, eu nunca encostei num, mas um amigo de um amigo meu já.

E eu avisei hein!!


PS:
Quanto ao fato de eu não ser muito original, bom, pelo menos eu escrevo, ao invés de agir como um spammer zumbi imbecil que encaminha e-mails estúpidos demandando que eu envie para meus 17.673 amigos a mensagem de que Deus me ama. Fora o fato de que ele não existe, se ele existisse aposto que não daria a mínima pra mim ou pra qualquer pessoa, pelo menos não mais do que ele se importaria com uma pedra ou com um gafanhoto, que afinal também "são" criações dele.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Selffuckfillingprophecy

A porra da profecia auto-realizável...

A vida tem sentido, não tem? Depende de quem responde. Se você acredita que tem, então tem. Mas objetivamente falando a vida não tem um sentido, e Freud já dizia isso, uma das (poucas) coisas em que ele acertou.

No livro “Cachorros de palha” (Editora Record, R$29,52) o filósofo John Gray nos convence de que nossas vidas não têm sentido. Ou melhor, que não somos nem menos nem mais do que qualquer animal. Nos consideramos tão especiais, somos os únicos a ter isso, os únicos a fazer aquilo, os senhores da Terra e do Universo. Deus foi feito à nossa semelhança. Então somos especiais.

Mas no fundo vivemos numa ilusão. É ruim? Na maior parte das vezes não. O auto-engano é a mais sofisticada de nossas invenções, principalmente porque não nos damos conta dela. E ele também acerta quando diz que não buscamos a verdade, só sofredores querem a verdade.

Nós queremos sexo, comida e dinheiro.

O sexo como motivação última e muitas vezes inconsciente de nosso comportamento, como frisava Schopenhauer. Aliás, a maior parte de nossa vida é inconsciente, muito mais do que nos damos conta ou do que gostaríamos. Nos imaginamos senhores da Terra, mas não somos nem mesmo senhores de nós mesmos. O livre-arbítrio, a capacidade de escolha são as maiores ilusões criadas pelo nosso cérebro. Não há self, não há homúnculo, a maior parte de nossas decisões são tomadas sem sabermos porque, sem que tenhamos tido uma influência consciente. O acaso faz maior parte de nossa vida do que gostaríamos, as maiores decisões a nosso respeito foram tomadas por nós sem nenhuma possibilidade de nossa influência (onde nascemos, quem são nossos pais, nossos genes).

E no fundo somos muito parecidos uns aos outros, muito mais parecidos do que diferentes, por qualquer medida que se queira usar. Nós, como espécie, somos incrivelmente parecidos entre si. No entanto, esquecemos disso e acabamos nos concentrando nas diferenças, que naturalmente são o que se destaca. Mas assim, como todos os leões de todos documentários parecem ser exatamente o mesmo leão, aos olhos de um leão qualquer homo sapiens seria indistinguível dos outros.

Apesar de tudo, nos achamos especiais, e isto não deve surpreender, pois faz parte de nosso maquinário evolutivo, mas é certamente é algo muito exagerado. Cada animal tem uma especialidade, tem aspectos únicos: golfinhos se comunicam por infra-som, caçam presas com sonar, tubarões percebem mudanças no campo elétrico, pombos se localizam através de um sistema de orientação em seu bico, num processo que só agora começa a ser entendido. E os exemplos são infinitos.

Sim, podemos ser o único animal que ri, que pensa no futuro. Mas por outro lado nosso olfato é horrível, nossos bebês são os mais frágeis, nossa visão noturna é a de um cego em comparação à visão dos felinos, nossa audição é a de um surdo comparada entre muitas deficiências. Cada animal desenvolve capacidades únicas que os permitem se adaptar a seu meio e sobreviver. Nada de espantoso nisso. Quer dizer, a vida é espantosa, mas o processo é rigorosamente o mesmo para todos seres vivos.

E a morte nos confronta com o que não queremos confrontar: a preciosidade da vida, este breve instante que temos e que é o único que teremos para fazer algo. Não vale convocar a vida eterna. Temos horror ao fim. Não nos percebemos como parte de algo maior. E esse algo maior não está se lixando para ninguém, não há salvação pois não há do que se salvar.

E agora meu vô não está mais aqui em casa. Ervino Aloysio Flach. Foi enterrado hoje pela manhã, em Alto Feliz, ao lado de minha vó que não conheci. E agora meu primo Gustavo está sentado na cadeira que meu vô usava todo o dia, em nossa casa, em Nova Milano, onde ele conviveu conosco nos últimos 20 anos.

A chuva é constante, a cerração é a usual, o clima é de um dia de inverno como tantos outros. Mas agora há um vazio a mais. Uma cadeira sem dono. Um quarto sem ocupante. Um livro sem leitor. A poltrona, fica ao lado de uma janela de onde se pode ver o jardim, com as flores que ele tanto gostava e cuidava, além de algumas araucárias e casas ao longe. Não é uma vista espetacular, mas é bonita. O calendário na parede marca o dia em que ele saiu para o hospital, 7 de agosto. Um calendário que ele sempre virava a página, sempre com uma foto de um animal e um dizer supostamente sábio.

E agora não há mais como saber se ele gostava do calendário, se ele gostava dos bichos, dos dizeres, dos dois ou de nenhum. Há mais um monte de coisa que nunca mais saberemos. Sempre parecia que haveria tempo para contar mais histórias. Tempo para sentar e fazer entrevistas, desvendar o passado de todos antepassados, desvendar as vidas e as histórias. Eu me culpo por isso, me culpo por ter ouvido pouco as histórias de meu vô, de ter lhe contado tão pouco da minha vida. Mas nem para meus pais eu conto muito. E o vô gostava de falar, falava de muitas coisas, de amigos, desafetos, visitas, parentes. Falava de e falava com. E às vezes não deixava ninguém falar :)

Mas agora todo mundo pode falar, eu posso falar horas com ele e não vai haver resposta. Tenho que me consolar com as respostas que tive, com os exemplos que ele me deu. No geral, teve uma vida aparentemente resignada, mas é aparente pois no fundo ele tinha suas motivações e fez suas escolhas. Teve sofrimentos e alegrias, como qualquer um. Amava sua família. Amava sua terra. Amava a música. Amava as flores. Amava a leitura. Amava ensinar. Amava falar. Amava contar suas histórias. Amava viver. Amava distribuir, não queria guardar para si, não tinha praticamente nada mas tinha o que o fazia feliz. Estava com amigos, estava com sua família e isso bastava.

Adeus, meu vô.


H. Schneider
14 de agosto de 2006


Para saber mais sobre o excelente livro "Cachorros de Palha", leia a entrevista com o autor John Gray aqui

segunda-feira, junho 12, 2006

Divagações sobre a paixão

“Baby, it’s been a long time waiting
Such a long, long time
And I can’t stop smiling, no I can’t stop now
Do you hear my heart beating
Can you hear the sound?”

Gravity, por Chris Martin e Embrace



E então é Dia dos namorados...

Peraí, mas não seria melhor “Dia dos .... Apaixonados”?? Sei lá, prefiro a paixão.

E paixão e amor não são a mesma coisa, não mesmo, nãnarinãnã. A paixão é mais intensa e fugaz, mais impulsiva e obsessiva. Segundo as mais recentes descobertas da neurociência, a paixão se assemelha a uma droga como a cocaína, pelos efeitos que provoca no cérebro e no corpo. Mas isto você já sabia – quer dizer, não precisa ter cheirado uma carreira pra saber da euforia de um apaixonado, basta ter sofrido de uma paixão. Outro fato descoberto sobre a paixão é que ela tem uma duração limitada e curta, não passando de 2 anos, e na maior parte dos casos durando menos de 1 ano! E isto, meu caro ex-apaixonado, você também já sabe. Depois de um tempo, a paixão pode virar outra coisa: vira amor ou acaba totalmente - e aí a gente parte pra conseguir outra carreira.

A duração tão curta da paixão não é por acaso: é o tempo necessário para um casal engravidar e ter um filho, isto considerando que os dois sejam “normais” e façam sexo com freqüência (3 vezes por semana está bom). E claro, desde que a mulher não tome anticoncepcional e o cara não tenha o “saco vazio”, produzindo aqueles espermatozóides todo errados e mutantes que vemos nos documentários sobre infertilidade. Ou seja: a paixão não deixa de ser um truque da natureza para mantermos nossa espécie. Aliás, como tudo na vida tudo não passa de um truque da natureza, e sempre acabamos tropeçando na evolução.

E como acontece com a maior parte dos truques em que caímos, dificilmente nos damos conta do quão pouco decidimos sobre o que desejamos e por quem vamos nos apaixonar. Amor à primeira vista, saca? Sim, ele existe. Ou melhor, atração à primeira vista, desejo à primeira vista, paixão à primeira vista. Faça o teste: quanto tempo você precisa olhar para uma pessoa para decidir se ela é atraente ou não? As pesquisas comprovam que isso acontece em menos (!!!) de um segundo. Sim, nosso cérebro muitas vezes é mais rápido que nossa consciência.

Mas enfim, por que estou escrevendo tudo isso? Ah, sim. Porque hoje é meu aniversário, é Dia dos Namorados, e eu estou sozinho num hotel em São Paulo. Porque me sinto tão cinza? Não estou triste, longe disso. Mas sabe quando falta alguma coisa? Sim, você sabe, talvez falte algo para você neste exato instante também. Você pode até estar namorando, mas quem diz que está feliz? Conheço muitos casais que estão juntos apenas porque não têm coragem de admitir que a relação já não traz mais alegria. O tesão se foi, a paixão acabou, o amor até pode existir, mas falta uma chama. E assim vamos vivendo, juntos. Mas só porque nos acomodamos ou não achamos alguém melhor. Naturalmente, isto não vale para todos casais, mas olhe ao redor e veja que vale para muitos (espero que não para você).

Mas minha melancolia, eu acho que sei de onde vem. Faz muito tempo que não me apaixono, mal me lembro de como é estar apaixonado. Esta é basicamente a causa deste súbito ataque de auto-comiseração ridículo. Pois como já dizia o gênio da poesia, todas cartas de amor são ridículas, não são? E esta não deixa de ser uma carta de amor. Um dia até fiz uma frase sobre essa dificuldade de se apaixonar novamente: “You can love many times, but you only fall in love once” (você pode amar muitas vezes, mas só se apaixona uma vez). Hoje acho que isso é uma baita besteira. Sei que pode acontecer de novo, e a uma nova paixão é até mais provável do que um novo amor.

E o que eu quero, o que eu quero muito, com todo meu coração, é me apaixonar loucamente. Quero aquelas paixões de ficar o dia inteiro pensando em minha amada, sentir aquele frio na barriga quando a ver, sentir o arrepio na espinha se espalhando pelo corpo quando ela me abraçar, perder os sentidos quando ela me beijar. Só isso.

Mas quem é ela? Como disse Churchill em relação às mulheres: “uma adivinhação, embrulhada em um mistério, cercado por um enigma”.

E no próximo ano, no meu aniversário, no próximo Dia dos Namorados, quero comemorar meu Dia dos Apaixonados. Quero estar apaixonado. Não!!! Me corrijo: quero estar loucamente apaixonado.

Quero estar perdidamente, irremediavelmente, insuportavelmente apaixonado.

É querer demais? Acho que não. E o que seria de nós sem nossos sonhos? Então me deixa sonhar, viver meu sonho e ser loucamente feliz. Coragem, então!!

H. Schneider
12-06-2006, São Paulo

sexta-feira, abril 14, 2006

I see it in your eyes

“I see it in your eyes..
I see it in your eyes..
You’ll be allright….
You’ll be alright…”

Athlete - Wires

Como é bom estar aqui em cima, como o mundo é bonito aqui de cima..tudo tão pequeno.. a cidade tão bonita.. tudo é tão pequeno.. o sol está alto....Parece que os problemas ficaram todos para trás, os nossos problemas parecem tão pequenos aqui de cima...

E não são? Não são todos eles problemas pequenos? Nossa história não é a história de todo mundo, tudo sempre repetido, do início até o fim?.. a história da humanidade se repete sempre em cada homem... nada de novo sob o sol..

Mas cada vez é um pouco diferente, cada vez é única porque afinal somos nós. Não é? A absoluta imprevisibilidade da vida.. não é isso que faz tudo ficar mais emocionante? Os amores vêm e vão.. quem sabe onde estará o próximo.. quem sabe o que vai acontecer na próxima esquina... ainda assim, dói, dói sempre que acaba, não é? Apesar de tudo foi bom, acho que estamos melhor assim.. talvez algum dia nos encontraremos de novo.. talvez... quem sabe.... agora não... talvez nunca mais, mas de qualquer forma foi legal, não foi? Teremos histórias bonitas para contar...

Afinal a vida é vulgar, um filme envelhecido, ..................

"Meu caro apaixonado, você não sabe que o romance nada mais é que o amor antes de dar errado? E você não sabe que, se a flor não for esmagada assim que florescer, então, dez anos depois, você vai estar empurrando um carrinho de bebê para o supermercado se perguntando: "Mas onde estará o meu verdadeiro amor?". E ele estará ali, diante de você, só que ficou frio e distante, olhando para datas de validade. Ah, o romance! O romance é jantar com um anjo e tomar café com a tristeza. Sempre acaba em lágrimas. Mas a vida é vulgar, um filme envelhecido, até começar de novo, até a próxima vez."

Até recomeçar... até a próxima vez..............

Um beijo

OBS: mais uma carta a nunca ser enviada mas escrita porque eu precisava, dentro de um avião num belo entardecer saindo de Porto Alegre, e vendo a cidade tão pequena e bela lá embaixo e lembrando de pessoas que tocaram minha vida, e derramando uma lágrima por elas e por mim (e ouvindo a belíssima Wires, do Athlete, na mais fantástica invenção da humanidade: o iPod de 20 GB. Obrigado, Steve Jobs!)