segunda-feira, junho 12, 2006

Divagações sobre a paixão

“Baby, it’s been a long time waiting
Such a long, long time
And I can’t stop smiling, no I can’t stop now
Do you hear my heart beating
Can you hear the sound?”

Gravity, por Chris Martin e Embrace



E então é Dia dos namorados...

Peraí, mas não seria melhor “Dia dos .... Apaixonados”?? Sei lá, prefiro a paixão.

E paixão e amor não são a mesma coisa, não mesmo, nãnarinãnã. A paixão é mais intensa e fugaz, mais impulsiva e obsessiva. Segundo as mais recentes descobertas da neurociência, a paixão se assemelha a uma droga como a cocaína, pelos efeitos que provoca no cérebro e no corpo. Mas isto você já sabia – quer dizer, não precisa ter cheirado uma carreira pra saber da euforia de um apaixonado, basta ter sofrido de uma paixão. Outro fato descoberto sobre a paixão é que ela tem uma duração limitada e curta, não passando de 2 anos, e na maior parte dos casos durando menos de 1 ano! E isto, meu caro ex-apaixonado, você também já sabe. Depois de um tempo, a paixão pode virar outra coisa: vira amor ou acaba totalmente - e aí a gente parte pra conseguir outra carreira.

A duração tão curta da paixão não é por acaso: é o tempo necessário para um casal engravidar e ter um filho, isto considerando que os dois sejam “normais” e façam sexo com freqüência (3 vezes por semana está bom). E claro, desde que a mulher não tome anticoncepcional e o cara não tenha o “saco vazio”, produzindo aqueles espermatozóides todo errados e mutantes que vemos nos documentários sobre infertilidade. Ou seja: a paixão não deixa de ser um truque da natureza para mantermos nossa espécie. Aliás, como tudo na vida tudo não passa de um truque da natureza, e sempre acabamos tropeçando na evolução.

E como acontece com a maior parte dos truques em que caímos, dificilmente nos damos conta do quão pouco decidimos sobre o que desejamos e por quem vamos nos apaixonar. Amor à primeira vista, saca? Sim, ele existe. Ou melhor, atração à primeira vista, desejo à primeira vista, paixão à primeira vista. Faça o teste: quanto tempo você precisa olhar para uma pessoa para decidir se ela é atraente ou não? As pesquisas comprovam que isso acontece em menos (!!!) de um segundo. Sim, nosso cérebro muitas vezes é mais rápido que nossa consciência.

Mas enfim, por que estou escrevendo tudo isso? Ah, sim. Porque hoje é meu aniversário, é Dia dos Namorados, e eu estou sozinho num hotel em São Paulo. Porque me sinto tão cinza? Não estou triste, longe disso. Mas sabe quando falta alguma coisa? Sim, você sabe, talvez falte algo para você neste exato instante também. Você pode até estar namorando, mas quem diz que está feliz? Conheço muitos casais que estão juntos apenas porque não têm coragem de admitir que a relação já não traz mais alegria. O tesão se foi, a paixão acabou, o amor até pode existir, mas falta uma chama. E assim vamos vivendo, juntos. Mas só porque nos acomodamos ou não achamos alguém melhor. Naturalmente, isto não vale para todos casais, mas olhe ao redor e veja que vale para muitos (espero que não para você).

Mas minha melancolia, eu acho que sei de onde vem. Faz muito tempo que não me apaixono, mal me lembro de como é estar apaixonado. Esta é basicamente a causa deste súbito ataque de auto-comiseração ridículo. Pois como já dizia o gênio da poesia, todas cartas de amor são ridículas, não são? E esta não deixa de ser uma carta de amor. Um dia até fiz uma frase sobre essa dificuldade de se apaixonar novamente: “You can love many times, but you only fall in love once” (você pode amar muitas vezes, mas só se apaixona uma vez). Hoje acho que isso é uma baita besteira. Sei que pode acontecer de novo, e a uma nova paixão é até mais provável do que um novo amor.

E o que eu quero, o que eu quero muito, com todo meu coração, é me apaixonar loucamente. Quero aquelas paixões de ficar o dia inteiro pensando em minha amada, sentir aquele frio na barriga quando a ver, sentir o arrepio na espinha se espalhando pelo corpo quando ela me abraçar, perder os sentidos quando ela me beijar. Só isso.

Mas quem é ela? Como disse Churchill em relação às mulheres: “uma adivinhação, embrulhada em um mistério, cercado por um enigma”.

E no próximo ano, no meu aniversário, no próximo Dia dos Namorados, quero comemorar meu Dia dos Apaixonados. Quero estar apaixonado. Não!!! Me corrijo: quero estar loucamente apaixonado.

Quero estar perdidamente, irremediavelmente, insuportavelmente apaixonado.

É querer demais? Acho que não. E o que seria de nós sem nossos sonhos? Então me deixa sonhar, viver meu sonho e ser loucamente feliz. Coragem, então!!

H. Schneider
12-06-2006, São Paulo