Amém. |
Em 2001, trabalhava na RBS na área de Análise de Mercado e fazíamos muitos trabalhos sobre telecom. Lia todo tipo de relatórios que falavam sobre o futuro, e o resumo era: dados, dados, dados.. a receita com voz ia cair, o consumo de dados e a receita com dados ia subir e etc. Achava aquilo uma grande baboseira.. que tipo de dados iam trafegar? Meu Nokia mal mandava mensagens, e o máximo era o jogo da cobra. Então, em 2005 comprei um Samsung, que acessava web via GPRS ou WAP. Não usava muito, demorava pacas e a tela era muito pequena. Uma vez, no entanto, fui salvo de uma enrascada pelo Google, com esse celular (essa história eu preciso escrever outra hora, o taxista Severino). Lembro de algumas poucas vezes em que acessei meu email pessoal. E só. Então continuei achando toda aquela história de dados uma grande besteira.
Enter the iPhone.
Afinal, como eram os telefones antes do iPhone? O que eles faziam? Como acessavam a internet? Não lembro. Talvez fizessem isso bem, mas ninguém dava bola. E isso mudou de uma hora para a outra. Devido ao iPhone, a rede 3G da AT&T sofreu constantes congestionamentos e até hoje as pessoas reclamam de lentidão. Era chegado, finalmente, o momento dos dados. O momento de acessar a web onde quer que eu estivesse. Mas esse momento não veio através de ações de operadoras, como se previa lá em 2001. Veio através de um competidor pequeno em comparação às grandes teles e que até então não tinha nada a ver com telecom (favor desconsiderar a fracassada experiência do Motorola RKR com iTunes).
Meu mundo estava completo. Mas peraí. Na verdade eu resisti a comprar um iPhone. Minha entrada no campo de distorção de realidade de Mr Jobs se deu com o iPod 3G (ou 4G?) branco, tela monocromática, levemente azulada, que meus pais trouxeram do Paraguai em 2005 junto com minha primeira câmera digital. Ah saudoso iPod!!! Quando comprei meu iPod preto com tela colorida 5G, "vendi" o branco a um grande amigo, que anos depois me "devolveria" a peça dizendo que não funcionava. Mas eu sempre fui de fuçar e ressuscitei o danado.
Aliás comprei meu iPod preto em julho de 2007, em NY, justamente quando foi liberado o primeiro iPhone 1G, nem existia app store na época. Lembro de no aeroporto encontrar um cara que havia comprado vários iPhones e vi ele mexendo no app de fotos. Muito bacana, pensei, mas muito grande. Gosto de celulares pequenos, quanto menor, melhor. Tanto que troquei meu velho Samsung por um menor Samsung, pelo qual também me apaixonei à primeira vista. Um amigo chamou esse meu aparelho de "celular de p..." mas ainda assim o mantenho em meu santuário de gadgets queridos. O chamo de celular canivete, devido a sua forma de abrir.
Então, em 2008 resolvi sair do mundo da Microsoft e comprei meu iMac 20". Paixão. Casei achando que ia ser bom, mas a paixão só cresceu. Às vezes, antes de dormir, paro e olho para trás e fico me deleitando com a beleza que é um iMac. Não vou traí-lo jamais. A não ser por um modelo mais novo, como hão de ser a maioria das traições.
Voltando ao iPhone. Ele continuava me intrigando. Mas sempre que eu o via, pensava: muito GRANDE. Me lembrava o celular "chapinha", o Motorola RZR, sucesso absoluto por volta de 2006, mas que nunca me apeteceu justamente por ser muito grande.
Pois bem... como sói acontecer (sempre quis usar essa palavra, sói) uma vez pedi para brincar com o iPhone de um amigo. Lembro de ter jogado Aquaplay (quem tem mais de 30 sabe do que falo) e um jogo de futebol. E foi ali, naquele instante, no Parque Hopi Hari, no carnaval de 2009, que mudei minha cabeça. Sim, eu gostei do iPhone. Sim, vou comprar um iPhone. Sim, eu PRECISO de um iPhone. Agora.
Comprei o dito em abril de 2009, em viagem à California. Coincidentemente, o comprei em San Francisco, pertinho da sede da Apple em Cupertino, a Meca Sagrada dos Fanboys (como são conhecidos os fanáticos por Apple). E digo mais, a Pedra de Cabala - ou qualquer que seja o nome daquele cubo preto gigante ao redor do qual muçulmanos ficam girando sem parar - a Pedra de Cabala ocidental fica em NY, na 5a avenida e é transparente, não preta.
iPhone 3G e eu. Paixão novamente. Meu deus, como me apaixono fácil! Taí mais um negócio que nunca vou trair. A não ser, claro, por um modelo mais novo. E logo depois de eu voltar de viagem, nosso amigo Steve vai lá e lança o 3GS. Ok, ainda é bem parecido com o 3G, posso aguentar. E em 2010, ele me vem com o iPhone 4. Hmmm, esse eu fiquei querendo muito. Não comprei pois não viajei mais ao exterior e me recuso a pagar o preço ridículo aqui no Brasil.
E em 2010 também lançaram um produto que, quando vi, não me disse muito. O iPad era apenas um iPodizão Touch. É, esse não vou precisar comprar não. Outras 15 milhões de pessoas pensaram diferente.
Pois bem... como sói acontecer (ó, segunda aparição!) uma vez um amigo me mostrou o seu (iPad) e decidi que precisava de um. TERIA que comprar um. Mas também não ia pagar o preço daqui. Então até agora estou sem, invejando meus amigos da RBS que passam serelepes com seus iPads e os exibem em cima das mesas. Inveja branca, vejam bem meus amigos, não estou criticando. Eu faria o mesmo.
E ontem o mais-magro-que-eu Mr Jobs me mostra o iPad 2. Ah, esse vai ser meu. Logo, logo, em junho botarei as mão em um, possivelmente em Oslo. Em termos de produto, o que mais impressiona é a mudança física, a diminuição da espessura principalmente, menor que 1 cm (8,8 mm para ser exato), mais fino que o iPhone 4 inclusive. E o app GarageBand, uma obra de arte para quem gosta de música. Hey Android, cadê o seu GarageBand? Aliás, anyone? A Apple vence de novo. Sim, admito, sou fanboy declarado e brand evangelist. In Jobs We Trust.
Agora, escrevi tudo isso motivado por algo que realmente chamou minha atenção mais do que tudo. Algo tão singelo quanto uma capa. Algo tão complexo quanto uma capa. Ou tão esperto, a julgar pelo pedante nome de Smart Cover. Bem, algumas pessoas e empresas podem ser pedantes. Como diz uma frase que inventei agora, não há nada de errado em cantar de galo. Se você for um galo.
Esta Smart Cover é uma obra primorosa do design moderno. Basta ver o vídeo acima para entender. Ela foi desenvolvida em conjunto com o iPad 2, e não poderia ser diferente, pois só funciona graças a imãs que ficam escondidos dentro da carcaça do aparelho. Porque fazer essa capa? Jony Ive, mestre dos magos do design, talvez o designer industrial mais famoso do mundo, explica que, entre outras coisas, a capa anterior escondia o belo corpo de aluminio do iPad. Hey, se você pagou caro por isso, não vai querer esconder, certo? Então por uma razão puramente estética resolveram fazer diferente. Mas não é só isso. A capa funciona como suporte, em duas posições. E se encaixa automaticamente. E vem em várias cores. E o tecido interno também ajuda a limpar a tela. E quando você abre a capa, o iPad liga instantaneamente. E quando você fecha, ele desliga. Realmente parece uma capa esperta, quiçá (outra palavra que queria usar) mágica.
E eu fico só imaginando o tamanho do esforço e do carinho (sim, carinho) só para pensar nesse detalhe. Que agora já não parece mais um detalhe, é algo natural, que certamente só não me ocorreu pois estava muito ocupado pensando em outras coisas. Se eu tivesse que pinçar algo para exemplificar o que é a Apple, eu escolheria esta capa. Tudo está ali. A simplicidade, a elegância, a funcionalidade, a preocupação estética, a integração primorosa. Um toque de gênio.
É por isso que fiquei lendo vários artigos sobre o iPad 2 e porque vi a apresentação completa do evento de lançamento agora de madrugada (72 min). É como se eu estivesse vendo o lançamento de um filme. Até a qualidade da imagem é muito superior a dos filmes que geralmente se baixa por aí (nunca fiz isso). Esses keynotes são nada menos do que teatrais, cinematográficos, possivelmente ensaiados até a euxastão como o Oscar, mas que, ao contrário dessa cerimônia decadente, não parecem forçados, tem algo de substancial a dizer e repercutem por toda imprensa como poucas empresas conseguem em seus eventos. Qual foi a última vez que você leu uma notícia sobre um evento de lançamento de um produto da Microsoft?
E esses eventos são naturalmente aguardados com grande ansiedade e expectativa por uma grande comunidade. As piadas e estocadas nos "concorrentes" são um bônus que reforça o ardor dos fanboys e a ira dos hateboys. A Apple não é perfeita, claro, e tem várias coisas que me irritam em seus produtos. Ainda assim, o que eu mais admiro é o apreço pelo detalhe, mesmo que pareça insignificante, a busca incansável da união entre estética, funcionalidade e simplicidade. Como Mr. Jobs fala ao final do evento, a Apple está na intersecção da tecnologia e da arte. E para alguns (muitos), perto de uma religião. Glória a Jobs, senhor.