sábado, julho 27, 2013

Teatro é foda...


Literalmente, um papelão!

De tempos em tempos surge uma obra fundamental, daquelas que deveriam ser vistas por todas pessoas. Esse tipo de obra nos dá uma visão do sublime, um lembrete do que o ser humano é capaz de fazer, seja essa obra uma peça, um filme, um texto, um quadro, ou até mesmo uma telenovela*.

Pois estreou ontem no Teatro Raul Cortez em São Paulo uma dessas obras que já nascem clássicas. "Três dias de chuva", de Richard Greenberg, tem um ótimo texto - sem isso, qualquer peça já nasce morta - indicado ao Pulitzer de 2007. No Brasil, é dirigida por Jô Soares. Se você ainda não está convencido, só digo uma coisa. Quer dizer, duas coisas. Não, melhor, três coisas:

1) Carolina.

2) Ferraz.

3) Figurino (só vendo a peça mesmo para ver as peças - ou a falta delas).

Pronto, convenci 50% dos meus amigos. Para as outras 50%, eu diria o seguinte.

A sinopse estilo guia de cinema da Zero Hora - ou seja, uma indicação tão crua que O Poderoso Chefão seria resumido como "Chefe da máfia de Nova Iorque resolve matar seus inimigos" - seria "Pai deixa herança que desencadeia conflito entre seu filhos e um amigo, com revelações surpreendentes sobre o passado".

Não dá muita vontade de ver né? Mas confie em mim, você vai sair do teatro pensando sobre sua vida, suas escolhas, suas relações com seus pais, seus amigos e também refletindo sobre o amor,  a fama, a importância do dinheiro (spoiler: não é tão importante) e sobre o que afinal importa na vida, entre outras coisas. E fazer tudo isso com seriedade, leveza e sendo muito engraçada ao mesmo tempo é mais raro do que encontrar carne de verdade numa esfiha do Habib's.

E quanto você vai gastar para ter toda essa experiência? R$ 60. Se você tem meia entrada, embora isso seja "raro", vai investir os melhores R$ 30 da sua vida - o que dificilmente pode ser dito dos R$ 30 que você pagou para ver Velozes e Furiosos 6 (?!?!) com um monte de teenagers aborrecentes falando ao seu redor** e aquele crunch crunch crunch da pipoca. (O cheiro da manteiga é um bônus extra adicional).

Aliás, acho que é só questão de tempo para essa peça virar um filme - em Nova Iorque, por exemplo, o elenco tinha Julia Roberts e Bradley Cooper -  e isso seria ótimo para levar a obra a muito mais gente. Agora, nada substitui a magia do teatro, pois como diz nosso filósofo dominical, quem sabe faz ao vivo, bixo! E como diz o próprio diretor, outro peso pesado da televisão mas recheado com conteúdo em vez de abobrinhas, "no teatro também se exerce uma profissão de risco, como os trapezistas. Teatro é trapézio sem rede."


Aplausos em pé para esses trapezistas.


  * Hahaha peguei vocês!

** Espantosamente, mas não de todo inesperado dada a minha sorte, uma guria começou a falar com o namorado atrás de nós, no que imediatamente virei a cabeça e lancei aquele olhar estilo laser para ela entender que não iria tolerar conversas. Funcionou. Por 10 minutos. Aí tive que a encarar novamente, fulminando-a por 5 segundos dessa vez, uma eternidade. Além disso fiz o clássico gesto de pshhh com o dedo, querendo dizer educadamente para ela que "PUTA QUE PARIU!!! VAI CALAR A PORRA DESSA BOCA OU NÃO PERCEBEU QUE ESTÁ NUM TEATRO???". Mesmo assim, ela não parou totalmente de falar, só diminuiu a voz. Que o Papa a excomungue e ela vá para o inferno

Naturalmente, tendo a sina que tenho, ela não era a única ao nosso redor sendo mal educada. Um senhor à nossa frente ria como uma hiena no cio a qualquer fala minimamente engraçada e ainda fazia adendos do tipo "essa foi boa! Huahsuaahsuahsuashusuhsh". Na saída da peça, vimos o Dráuzio Varela e quase pedi pra ele fazer um quadro no Fantástico sobre a epidemia da má educação no Brasil, doença que acomete todas as classes sociais. Acho que está na hora de implantar a PEC do Silêncio nos teatros e cinemas.