domingo, julho 25, 2010

Olhe para trás com raiva



Há, sim, perdas irreparáveis
Há, sim, feridas que não fecham
Há, sim, tristezas infindáveis
Há, sim, pessoas que não prestam

Nem tudo tem lado positivo
Nem toda injustiça é justiçada
Nem tudo tem algo criativo
Nem toda escuridão será iluminada

Ver algo bom em tudo
É acreditar que a vida sempre ensina, mas...

Há dor que não ensina
Há dor que só dói
Há chama que só queima
Há amor que destrói

Olhe para trás com raiva.




Inspirado pela ótima peça "Olhe para trás com raiva", de John Osborne, em cartaz no Teatro Vivo, em São Paulo (trechos aqui). Resolvi ver devido ao título, que é o contrário da clássica Don't Look Back in Anger, do Oasis (melhor banda do mundo :)

segunda-feira, julho 19, 2010

Meu Casamento Fracassado e Como Voltei ao Meu Antigo Amor

Para A.M., por me ouvir, me instigar, me incentivar


Fui seduzido. Mas não foi da primeira vez. Ela já havia tentado antes. Conheci ela lá por 2002 (vamos chamá-la de G.). Mas foi só em 2005 que conversamos a sério pela primeira vez. Ela que me chamou para conversar. Eu estava bem, um relacionamento bacana (com R.), que tinha começado em 2000, terminou em 2003, com alguns flashbacks, e voltou a ficar sério em agosto de 2005, assim que acabei meu mestrado. Logo que eu voltei para R - foi aí que G me chamou. Quis ouvir o que ela tinha a dizer. Curiosidade mesmo. Então lá fui eu, marcamos no horário de almoço. Não tive a melhor das impressões logo que a vi mais de perto, mas ouvi com atenção. G não era de todo desinteressante, mas eu recém tinha voltado a me relacionar e não havia grandes motivos para eu querer saltar fora, tudo estava bem. Assim, terminamos a conversa, agradeci mas não a procurei mais.

Não demorou muito, no entanto, para meu relacionamento com R entrar em crise. Feia, ela quis acabar comigo alegando dificuldades mas eu gostava muito dela, e me esforcei para mostrar que eu tinha valor, que merecia uma segunda chance. Assim ficamos, mas já não era exatamente o mesmo sentimento, o gosto da crise permaneceu no fundo da boca. Um ano depois, as coisas estavam melhores, mas foi aí que uma amiga me apresentou T. A verdade é que eu não tinha digerido bem a crise do final de 2005, e queria ter novas experiências. Gostei de T, na verdade, eu já a conhecia mas nunca tinha pensado que teria algo a ver com ela. Finalmente decidi deixar R, comuniquei minha decisão, já de forma irreversível. Ela tentou me segurar, disse que ia me tratar melhor. Mas porque não pensou nisso antes? Tinha que esperar me perder para perceber meu valor?

E lá fui. Começando novamente. No início tudo era bacana com T, novo, mas o tempo trouxe o tédio. E quando eu me entedio, perco o tesão, muito rápido - foram menos de 6 meses. Me tornei burocrático. A rotina - esse cavalo de tróia dos relacionamentos - me pegou. Cumpria com as obrigações, mas muitas vezes me pegava pensando se não estaria melhor com R, só que agora não havia mais como voltar, R já estava com outro.

E foi bem aí que G me chamou novamente para conversar. Só que dessa vez, eu já não estava contente com a outra. E G foi bem mais sedutora. Pegou num ponto fraco meu, me disse exatamente o que eu queria ouvir, vi nela a possibilidade de ter algo que eu sempre quis, um desejo antigo, que eu perseguia sem nem mesmo saber se era isso mesmo que eu queria. Ora, a maior parte do que desejamos pode se revelar somente isso - um desejo, que quando atingido já não nos deixa feliz. Mas como saber se não temos o que desejamos?

A ciência da psicologia oferece alguns caminhos, e a maior parte deles envolve se informar com outras pessoas que passaram pela experiência para saber como se sentiram. Uma forma de medir a diferença entre expectativa e realidade. Sempre acreditei em pesquisa, então fui atrás de pessoas que conheciam G melhor, até mesmo algumas que já tinham se relacionado com ela. Falei com várias pessoas, eu não estava totalmente seguro. No fim, o desejo antigo falou mais alto. E comecei um novo relacionamento.

Intuição. Ouçam suas intuições. Nem sempre acreditem nelas, mas considerem como um input interessante. E olhando para trás, toda minha ânsia em pesquisar, em querer ter certeza, era no fundo um temor de que o que G me oferecia talvez não fosse bem o que eu procurasse. Mas não me culpo, ver a história acontecida e saber o que tínhamos que ter feito é o que fazemos de melhor. Mas só conseguimos fazer isso olhando o que já aconteceu e não temos nenhuma garantia de que não vamos repetir o mesmo erro. Aliás, não posso chamar de erro o que aconteceu. Se eu voltasse no tempo, sabendo o que eu sabia na época, creio que teria 99% de chance de ser seduzido por G. Realmente meu desejo era forte.

Sem entrar em muitos detalhes, o casamento com G fracassou. Não era o que eu achava que seria, nem de longe, nem de perto. Desde o início foi tudo muito difícil, e com o temperamento forte vinham também vários momentos de tédio. Comecei a ficar angustiado, percebia que as coisas não estavam nada bem. Mas continuei. E G também percebeu que eu não era o que ela precisava. Até que menos de 4 meses depois, em 12 de junho de 2007, meu aniversário, G. me chamou para conversar logo pela manhã. E disse que não estava dando certo.

Eu só pude concordar, mas não tinha certeza se ela queria acabar ali ou se eu teria uma nova chance. Ao fim da conversa, entendi que estava acabado. O mais engraçado de tudo é que eu não senti tristeza. Senti alívio. Eu não fiz o que ela teve coragem de fazer. Foi a primeira vez que um relacionamento meu terminou por iniciativa da outra parte. Mas não foi traumático, foi libertador. Foi um fracasso? Com certeza. Foi tudo ruim? Não, sempre aprendo algo, e conheci várias pessoas através de G. Acabamos bem.

Tive um tempo para ir a Nova Iorque, um antigo sonho meu, e foi maravilhoso. Voltei renovado, feliz, disposto a começar tudo de novo. E menos de 3 meses depois encontrei outra. Na verdade, reencontrei. R me chamou novamente. Ela, meu primeiro amor verdadeiro, que me fez tão feliz por cerca de 5 anos entre idas e vindas. E agora ela estava diferente, eu também estava, e decidimos recomeçar. A princípio, sem um grande compromisso. Combinamos que tentaríamos, e que se tudo corresse bem poderíamos oficializar. Seis meses depois, casamos. Estamos juntos até hoje. Quanto tempo vai durar? Como saber? Mas percebi que meu desejo antigo não estava equivocado. Eu só não estava pronto. E agora estou.

Vou tentar de verdade, quero que dê certo de verdade. Já me entediei algumas vezes com R? Certamente. Já tive uma crise seríssima novamente? Sim, e muito pior do que a primeira lá em 2005. Estive a um passo de cair fora. Mas tive paciência, esperei as coisas melhorarem, me esforcei para isso. E hoje, vejo um futuro melhor. Meu tesão voltou, não que eu estivesse infeliz, mas estava acomodado, meio no automático. R me chamou para conversar, numa boa, pois via que as coisas não estavam bem, e deixou bem claro que era preciso mudar.

Demorei a realmente entender. Mas semana passada, tivemos uma nova conversa. E vi que se eu quero que as coisas mudem, devo mudar eu primeiro. E que a melhor maneira de mudar, não é mudando tudo de uma vez. Não só é difícil, como pode causar muita frustração. Resolvi mudar de atitude, fazer um gesto, mesmo que pequeno. E mudar um gesto pode mudar uma cabeça - ou duas. Vou me esforçar. Não vai ser sempre fácil, claro, não vai ser tudo felicidade. Dificuldades sempre existem.  

Mas o desejo pode fazer a diferença - não o desejo declarado, o desejo racional - e sim o desejo profundo, o desejo de felicidade, o desejo que brota de uma mudança de olhar. É só sair da rotina, tentar algo nunca tentado. Se não der certo, tentar outra coisa. Conversar, numa boa, de mente aberta e coração também. Até que a gente construa algo maior do que qualquer um dos dois poderia sozinho. Para mim e para R.

Nota do autor: o casamento e o amor de que falo não necessariamente se referem a pessoas reais.