segunda-feira, outubro 31, 2011

quarta-feira, setembro 28, 2011

Por uma lógica do afeto

Eu e Banda Falcatrua em 1996. Não é instagram, é Polaroid mesmo.
E então, um dia, uma guria pegou na minha mão e aquilo fez toda diferença. Me apaixonei. Simples assim.

Eu tinha 20 anos. Nunca tinha tido uma namorada, só rolos.  Ela era linda, inteligente e parceira, do tipo que todos meus amigos sonhavam (e queriam) namorar. O estranho é que eu a conhecia desde criança, uma grande amiga de minha irmã e nunca tinha sequer considerado ter algo com ela, a via apenas como uma amiga. Sem falar no fato dela ser inatingível. Imune às tentativas de quem quer que fosse.

Pois um dia, em uma praça onde me criei e sempre brincava, havia uma festa da comunidade. Estávamos, eu e vários amigos, incluindo ela, conversando em uma roda. Chegaram dois caras não sei de onde e começaram a conversar com ela, dando em cima descaradamente. Eu estava do lado dela, e por algum motivo, provavelmente porque ela queria se livrar dos caras, pegou em minha mão e disse: deixa eu apresentar meu namorado. E ficamos de mãos dadas por algum tempo, eles "vazaram" e ainda ficamos assim por alguns minutos. Demos risada, nos divertindo com a cara dos manés.

Isso já deve ter acontecido com você. Alguém te fala alguma coisa ou faz alguma coisa, e de repente você percebe, de uma hora pra outra que está apaixonado. Pode ser um gesto, um abraço, uma palavra, um jeito de segurar o garfo ou a forma com que ela se lambuza comendo um picolé. Pode ser um fio de cabelo descendo pela nuca, ou os olhos que parecem tristes e te olham e abrem um sorriso. Assim, de repente assim. Sem razão assim.

E foi assim, através de um enroscar de mãos em uma tarde com sol que me vi apaixonado. Ou melhor, obcecado, que é apenas outro nome para paixão. Não conseguia parar de pensar nela, de fantasiar como seria beijá-la, como seria estarmos sós, dormindo abraçados. Pensava até em como chegaríamos a ficar velhinhos e como seriam nossos netos. A mente voa quando estamos apaixonados, mas pousa sempre no mesmo lugar, hora após hora, voltando ao objeto de nossa afeição como um avião que nunca consegue dar mais do que algumas voltas em torno do aeroporto e retorna.

A obsessão virou uma espécie de desafio e objetivo fixo. Depois de muitas idas e vindas, creio que uns 6 meses, muitas coisas ditas (e não ditas), muito papo ao telefone velho com rodinha, um dia, finalmente me declarei (ao telefone, não tive coragem de falar ao vivo). Sim, eu te amo. Sim, quero ficar contigo.

Não lembro exatamente quanto tempo depois dessa declaração finalmente nos beijamos, em uma chácara, após um show da minha banda Falcatrua (o nome diz tudo) na garagem de quem viria a ser meu melhor amigo. Lembro de estar perto do Golf vermelho de meu pai, detalhe que parece insignificante mas que faz parte dessa cena que tantas vezes revi em silêncio no cinema de minha memória. Lembro que não foi fácil, houve uma espécie de resistência. Não era inclusive minha primeira tentativa, houve uma investida anterior que terminou com um virar de rosto humilhante. Mas perseverei, valia a pena.

E então o primeiro beijo. Dizer que foi um momento mágico é obviamente um clichê, o que paradoxalmente não torna a experiência menos mágica. "Só nos tornamos cúmplices da vida, quando dizemos de todo coração, uma banalidade". Eu te amo é tão banal e tão difícil e tão clichê e tão raro. Ao menos para mim. Economizo eu te amos como quem salva dinheiro numa poupança que nunca é gasta, acumulando sentimentos mas sem revelar o saldo de minha conta, com medo de ser roubado. E no entanto, dessa vez eu saquei toda minha poupança acumulada. Por que guardar tanto dinheiro? Guardar dinheiro não traz felicidade, assim como guardar amor. Ter dinheiro e ter amor trazem (geralmente) felicidade, mas só se usufrui mesmo quando esses ativos são usados.

No fim das contas, meu primeiro namoro chegou ao fim uns 6 meses depois. Motivos? Que adianta pensar nisso agora. Meu amor não acabou de uma hora para outra, pelo contrário, o carreguei como um peso por um bom tempo. Carreguei todo ele, pois senti como se ela tivesse me devolvido todo o amor que havia nela por mim. Mas no fim, o fim é apenas o início de um novo começo, como diz uma música. Demorou, mas passou. Ainda somos amigos, embora nos falemos pouco. Ainda gosto dela, de um outro jeito, como gosto de meus amigos.

Por que escrevi tudo isso? Esse post era para ser diferente. O título eu já tinha há muito tempo, mas o recheio era outro, muito mais científico, impessoal, cerebral. Quase um manifesto e uma súplica. Por algum motivo, hoje, no evento Fronteiras do Pensamento, em meio a uma palestra fantástica da Sylvia Earle, ganhadora do prestigiado TED Prize, desencantei a rechear o título no bloco de anotações do evento. E o que me veio foi essa história. Porque o afeto não tem lógica, ele vem e vai como que por magia. Quando vem, não podemos fazer nada, ele já é. Quando foi, já foi.

Podemos criar nossas histórias, podemos marcar um momento em que nos apaixonamos, mas no fundo são histórias que criamos para dar coerência à nossas vidas, para preencher o vácuo de explicações das coisas talvez mais importantes. Assim como criamos Deus para preencher o vácuo de nossa existência, inventamos o amor para dar continuidade à nossa existência. Tenho certeza de que não sou a única pessoa a desejar uma lógica cristalina do afeto. E no entanto, sei que essa lógica, se existe, não é cristalina e, além disso, é impermeável à explicações. Resta ficarmos maravilhados quando ele acontece. "Never lose the sense of wonder", nas palavras de Sylvia.

E se você olhar bem de perto, como diz a música, o amor, na verdade, está à nossa volta.
Basta abrir a mão e gastar o que não foi feito para ser guardado.

terça-feira, setembro 13, 2011

Sobre a morte


Tio Zé. Amo eternamente.
Alfie. Assisti à esse filme faz uns 6 anos. Muitas vezes pensei nele após ter visto, mas há muito tempo não pensava nele, até chegar essa noite. Pensei por 2 motivos: 1) me lembra meu primo, Fabio, que infelizmente já faleceu; 2) por causa da frase final do filme. É algo do tipo: "Tive várias mulheres, me diverti muito, tive tudo. Mas não tenho paz". (original: I have no peace of mind).

Não, não tive muitas mulheres. Não, não sou bonito e rico como o Jude Law. Sim, me diverti muito até hoje. Mas I have no peace of mind. Talvez seja até bom ser inquieto e inconformado. Mas às vezes cansa. Às vezes acho que preferia uma vida mais calma. Só que quando tive a vida calma, me aborreci. Eu encho o saco muito fácil, me entedio muito fácil, canso de relacionamentos muito fácil, canso de tudo muito fácil.

Teenage angst? Talvez. Tédio existencial? Às vezes. Mas acho que todos passam por momentos assim. Se questionam sobre os rumos da vida, sobre seus sonhos, sobre seus amores, sobre o que é importante. Eu penso muito na morte, por exemplo. Não porque eu queira morrer, muito pelo contrário. Tenho verdadeiro horror à morte, se eu pudesse escolher, não morreria. Nem as pessoas que gosto morreriam. Mas elas morrem. In the end, todos morrem.

Quase todo dia, me pego pensando e olhando as pessoas e percebendo claramente que um dias essas pessoas irão morrer, e eu junto com elas. Será que serei antes? Antes de alguns, depois de outros, claro. A vida é assim mesmo, triste e alegre. Se choramos por alguém , é porque choramos por nós mesmos. Se perdemos alguém , perdemos sempre uma parte de nós. Se nos vamos, o mundo perde parte de nós.

A verdade última é que nascemos sozinhos e morremos sozinhos. Com pessoas que nos amam, mas vamos sozinhos. Muitas já se foram de minha vida, só para relembrar, meu primo, meus avós, meu tio Zé, esse ano ainda. Penso e temo por quem será o próximo. Porque acho que será de repente, sem aviso. Se for com aviso, não será menos triste ou menos difícil. Mas vai acontecer. Eu vou, eles vão, todos irão. Não há o que fazer.

Por isso não acredito em Deus nem em vida após a morte. A vida é aqui e agora. Conforta? Acho que menos do que os que acreditam. Mas creio que torna a vida mais valiosa, porque não se repete. Millôr já disse: viver é desenhar sem borracha. Complemento: morrer é não poder rabiscar mais.

Faz alguns dias, reli alguns trechos de um livro, de Luc Ferry, filósofo francês que inclusive conhecerei em breve pois minha empresa está trazendo ele à Florianópolis para o evento Fronteiras do Pensamento, que já ocorre em Porto Alegre e São Paulo. Estou muito animado e feliz pela oportunidade que terei de conhecê-lo pois ele escreveu um livro maravilhoso, chamado Aprendendo a Viver. A tese principal é de que a filosofia e a religião, no fundo, são respostas à morte, ao temor da morte e tudo mais.

E na última página, ele conta a história de uma entrevista que uma pessoa famosa deu. Essa pessoa também não acreditava em Deus ou vida após a morte. E participou de uma entrevista em que são feitas perguntas padrão a todos entrevistados, tipo ping-pong. Uma dessas perguntas era: se você pudesse ir para o céu e encontrar Deus, o que diria? Ele respondeu: que bom poder encontrar as pessoas que amo. Ou seja, mesmo um ateu declarado, o que ele mais queria era rever quem ele amou. Penso, não há como ser diferente. Creio que seja um desejo universal. Poderia ser minha resposta também.

Mas, como já disse, um dia o fim chega. E nunca estamos preparados. E temos que seguir em frente, até que aconteça com a gente ou com quem amamos. E até lá, tentarmos fazer o melhor, aproveitar o máximo, tentar deixar um legado, um amor, algo que faça o mundo tentar lembrar que um dia estivemos aqui. Que um dia, participamos de tudo isso. Que um dia, brilhamos, mesmo que depois tenhamos apagado.

O difícil é percebermos como somos sortudos de poder estar aqui e ter conhecido e amado a quem amamos. Ah como é difícil. Às vezes consigo. Às vezes só sinto tristeza. Às vezes alegria por todos que amo e amei. Escrever é um a forma de tentar permanecer. Gosto de pensar que um dia meus filhos, netos, bisnetos e n-netos poderão ler o que escrevi, olhar meu perfil no Facebook e também gostar de mim, talvez até amar, pois de certa forma eles estarão aqui porque meus antepassados estiveram e eu estive. É uma espécie de conforto. É tudo que tenho.

Agora vou parar de escrever pois não sei mais o que escrever.
Obrigado aos que me lêem.
É um prazer imenso saber que não estou sozinho.
Até mais!

quarta-feira, abril 20, 2011

Sobre a importância de criar o que for


Anotações aleatórias no meu "notebook"
Escritores são arquitetos. De imagens e sentimentos. Nem sempre para os outros mas sempre para si mesmos. Li uma vez e concordo: nunca escrevemos ou choramos pelos outros. É sempre por nós mesmos que choramos. Se atingimos um outro é porque tocamos em algo profundo, uma corda que ressona como um Lá maior, que não importa o instrumento ou o lugar, sempre vai vibrar na freqüência exata de 440 Hz (ou múltiplos disso). Mas o timbre sempre é único.

E sendo tão particulares como o timbre de uma voz, única entre 7 bilhões de pessoas, entre todas as pessoas que existem, existiram ou existirão, às vezes conseguimos tocar o âmago de toda humanidade, tornando assim uma única voz na voz de todas as pessoas. Do particular para o universal. Só conseguimos isso sendo o que ninguém é, fora nós mesmos: sendo nós mesmos. Fernando Pessoa já disse: o poeta é um fingidor. Finge a dor que nem mesmo sente, mas que já sentiu ou imaginou sentir. No fim, somos o que fingimos para nós mesmos.

Às vezes penso se o que escrevo é bom. Algumas pessoas já me disseram que é, e sou grato a elas. Mas há algo que importa mais do que escrever bem. E isso é simplesmente escrever. Ou pintar. Ou criar, qualquer coisa, de qualquer maneira. Por que? Porque isso é algo que só você pode fazer, criar o que é seu. Não importa a qualidade, importa que é seu e tudo que você criar só podia ter sido criado por você.

Há uma frase que expressa bem o que quero dizer: há um chapéu onde antes não havia nada. E há porque você fez aquele chapéu. Por isso sinto um prazer imenso sempre que acabo de escrever algo, olho para o que escrevi como se fosse um filho. Tudo o que você cria, sozinho ou com alguém, é filho seu, com seu DNA, mutante ou não.

Olhe para ele com carinho. E continue tendo filhos, eles sobreviverão a você, e serão sua marca no mundo, por menor que seja essa marca. Não pisar tão de leve que ninguém perceba nem tão forte que destrua. Foi algo assim que meu colega Mateus Grasseli falou na noite da formatura de 2º grau do colégio Leonardo Da Vinci,  no final de 1993.   Momentos que não voltam mais, e que, no entanto, nunca nos deixam.

sexta-feira, abril 01, 2011

A Hipótese de Bruna - ou Da Função Social da Prostituição

Bem mais bonita que a real. Mas não está disponível.
"Eu não pago para fazer sexo com uma mulher. Eu pago para ela ir embora depois." Jack Nicholson


Bruna Surfistinha é um bom filme mas não vou aqui escrever uma crítica. O que me deixou pensando foi uma coisa que Bruna diz no filme: "já salvei muitos casamentos."
Será? A lógica é algo do tipo: em vez de trair a parceira com outra pessoa "normal" ou acabar um relacionamento por falta de "variação", tédio ou o que seja, o homem busca a profissional, que satisfaz o desejo sem complicações. O homem não precisa se esforçar nem se preocupar com uma ligação emocional e a mulher não corre o risco de perder seu homem para outra mulher. Bom, Raquel pode ter salvo vários casamentos, mas pelo menos um ela não salvou: o casamento do ex-cliente que se separou de sua mulher para ficar com Bruna.

Essa lógica me fez lembrar de uma tarde que passei com amigos num café elaborando um audacioso business plan para um negócio de alto potencial. O nome da corporação seria SPF, Serviço de Proteção à Família. Essa corporação, ou Clube de Relacionamento como preferimos chamar, ofereceria um nível de serviço nunca visto no setor do entretenimento masculino adulto. Nosso SPF seria o iPhone desse mercado: algo que estaria anos-luz a frente da concorrência. Os planos não prosperaram além daquela tarde, mas certamente conseguimos espantar vários clientes da Starbucks que estavam ao nosso lado. Tudo começou com uma brincadeira, mas ao final da conversa estávamos elaborando a mecânica do Programa de Fidelidade. Ou talvez fosse o primeiro Programa de Infidelidade do mundo.

Mas afinal, a afirmação de Bruna faz sentido? Para resolver a questão, podemos imaginar um experimento para verificar cientificamente se prostitutas atuam como um SPF, salvando relacionamentos do desastre. Bastaria pegar 2 grupos de homens e acompanhar suas vidas durante alguns anos. É um estudo muito comum na área da saúde e o nome técnico é estudo longitudinal. Um grupo faria uso constante dos SPF, e os outros não fariam (sim, existem e são a maioria). Se a hipótese do SPF estiver certa, o grupo de usuários dos serviços teria uma taxa menor de divórcios e/ou menos conflitos com parceiras. Por motivos óbvios, dificilmente este estudo existirá (e se existir, gostaria de investigar a fundo o método de coleta de dados).

Como não temos dados, cada um fica com sua teoria por hora. Mas digamos que em alguns casos, o uso de SPF pudesse teoricamente ajudar a "salvar" ou manter relacionamentos. Ora, se o preço de manter um relacionamento é ter de fazer sexo com prostitutas, vale a pena manter esse relacionamento? Suponho que a maioria das mulheres responderia não, mas o mundo não é feito de teorias e sim de uma confusão incrível de desejos, conflitos, dilemas, paradoxos e por aí vai. A velha história de que na prática, a teoria é outra. De forma geral, creio que o furo é bem mais em cima. No cérebro, o verdadeiro órgão sexual.

O que não precisa de estudo para se comprovar* é o fato de que as profissionais do sexo de hoje enfrentam uma concorrência nunca vista na história da humanidade. De onde vem essa concorrência? Mulheres que fazem sexo sem cobrar. Ou seja, a maioria. A revolução dos costumes facilitou muito a ocorrência do sexo antes do casamento, sexo casual, em série, em paralelo, em cima, embaixo, de lado, etc.... Aliás, a expressão "sexo casual" foi criada há apenas algumas décadas atrás.
Ainda assim, essa concorrência dificilmente levará à falência dos SPFs. Enquanto os homens forem menos seletivos e desejarem mais sexo do que as mulheres, este mercado existirá. Ou seja, para sempre.

*Se você não acredita, leia o primeiro capítulo do livro Super Freakonomics, que traz justamente um estudo interessantíssimo sobre a prosituição.

quinta-feira, março 03, 2011

In Jobs We Trust

Amém.


Em 2001, trabalhava na RBS na área de Análise de Mercado e fazíamos muitos trabalhos sobre telecom. Lia todo tipo de relatórios que falavam sobre o futuro, e o resumo era: dados, dados, dados.. a receita com voz ia cair, o consumo de dados e a receita com dados ia subir e etc. Achava aquilo uma grande baboseira.. que tipo de dados iam trafegar? Meu Nokia mal mandava mensagens, e o máximo era o jogo da cobra. Então, em 2005 comprei um Samsung, que acessava web via GPRS ou WAP. Não usava muito, demorava pacas e a tela era muito pequena. Uma vez, no entanto, fui salvo de uma enrascada pelo Google, com esse celular (essa história eu preciso escrever outra hora, o taxista Severino). Lembro de algumas poucas vezes em que acessei meu email pessoal. E só. Então continuei achando toda aquela história de dados uma grande besteira.


Enter the iPhone.


Afinal, como eram os telefones antes do iPhone? O que eles faziam? Como acessavam a internet? Não lembro. Talvez fizessem isso bem, mas ninguém dava bola. E isso mudou de uma hora para a outra. Devido ao iPhone, a rede 3G da AT&T sofreu constantes congestionamentos e até hoje as pessoas reclamam de lentidão. Era chegado, finalmente, o momento dos dados. O momento de acessar a web onde quer que eu estivesse. Mas esse momento não veio através de ações de operadoras, como se previa lá em 2001. Veio através de um competidor pequeno em comparação às grandes teles e que até então não tinha nada a ver com telecom (favor desconsiderar a fracassada experiência do Motorola RKR com iTunes).


Meu mundo estava completo. Mas peraí. Na verdade eu resisti a comprar um iPhone. Minha entrada no campo de distorção de realidade de Mr Jobs se deu com o iPod 3G (ou 4G?) branco, tela monocromática, levemente azulada, que meus pais trouxeram do Paraguai em 2005 junto com minha primeira câmera digital. Ah saudoso iPod!!! Quando comprei meu iPod preto com tela colorida 5G, "vendi" o branco a um grande amigo, que anos depois me "devolveria" a peça dizendo que não funcionava. Mas eu sempre fui de fuçar e ressuscitei o danado.


Aliás comprei meu iPod preto em julho de 2007, em NY, justamente quando foi liberado o primeiro iPhone 1G, nem existia app store na época. Lembro de no aeroporto encontrar um cara que havia comprado vários iPhones e vi ele mexendo no app de fotos. Muito bacana, pensei, mas muito grande. Gosto de celulares pequenos, quanto menor, melhor. Tanto que troquei meu velho Samsung por um menor Samsung, pelo qual também me apaixonei à primeira vista. Um amigo chamou esse meu aparelho de "celular de p..." mas ainda assim o mantenho em meu santuário de gadgets queridos. O chamo de celular canivete, devido a sua forma de abrir.


Então, em 2008 resolvi sair do mundo da Microsoft e comprei meu iMac 20". Paixão. Casei achando que ia ser bom, mas a paixão só cresceu. Às vezes, antes de dormir, paro e olho para trás e fico me deleitando com a beleza que é um iMac. Não vou traí-lo jamais. A não ser por um modelo mais novo, como hão de ser a maioria das traições.


Voltando ao iPhone. Ele continuava me intrigando. Mas sempre que eu o via, pensava: muito GRANDE. Me lembrava o celular "chapinha", o Motorola RZR, sucesso absoluto por volta de 2006, mas que nunca me apeteceu justamente por ser muito grande.


Pois bem... como sói acontecer (sempre quis usar essa palavra, sói) uma vez pedi para brincar com o iPhone de um amigo. Lembro de ter jogado Aquaplay (quem tem mais de 30 sabe do que falo) e um jogo de futebol. E foi ali, naquele instante, no Parque Hopi Hari, no carnaval de 2009, que mudei minha cabeça. Sim, eu gostei do iPhone. Sim, vou comprar um iPhone. Sim, eu PRECISO de um iPhone. Agora.


Comprei o dito em abril de 2009, em viagem à California. Coincidentemente, o comprei em San Francisco, pertinho da sede da Apple em Cupertino, a Meca Sagrada dos Fanboys (como são conhecidos os fanáticos por Apple). E digo mais, a Pedra de Cabala - ou qualquer que seja o nome daquele cubo preto gigante ao redor do qual muçulmanos ficam girando sem parar - a Pedra de Cabala ocidental fica em NY, na 5a avenida e é transparente, não preta.


iPhone 3G e eu. Paixão novamente. Meu deus, como me apaixono fácil! Taí mais um negócio que nunca vou trair. A não ser, claro, por um modelo mais novo. E logo depois de eu voltar de viagem, nosso amigo Steve vai lá e lança o 3GS. Ok, ainda é bem parecido com o 3G, posso aguentar. E em 2010, ele me vem com o iPhone 4. Hmmm, esse eu fiquei querendo muito. Não comprei pois não viajei mais ao exterior e me recuso a pagar o preço ridículo aqui no Brasil.


E em 2010 também lançaram um produto que, quando vi, não me disse muito. O iPad era apenas um iPodizão Touch. É, esse não vou precisar comprar não. Outras 15 milhões de pessoas pensaram diferente.


Pois bem... como sói acontecer (ó, segunda aparição!) uma vez um amigo me mostrou o seu (iPad) e decidi que precisava de um. TERIA que comprar um. Mas também não ia pagar o preço daqui. Então até agora estou sem, invejando meus amigos da RBS que passam serelepes com seus iPads e os exibem em cima das mesas. Inveja branca, vejam bem meus amigos, não estou criticando. Eu faria o mesmo.


E ontem o mais-magro-que-eu Mr Jobs me mostra o iPad 2. Ah, esse vai ser meu. Logo, logo, em junho botarei as mão em um, possivelmente em Oslo. Em termos de produto, o que mais impressiona é a mudança física, a diminuição da espessura principalmente, menor que 1 cm (8,8 mm para ser exato), mais fino que o iPhone 4 inclusive. E o app GarageBand, uma obra de arte para quem gosta de música. Hey Android, cadê o seu GarageBand? Aliás, anyone? A Apple vence de novo. Sim, admito, sou fanboy declarado e brand evangelist. In Jobs We Trust.


Agora, escrevi tudo isso motivado por algo que realmente chamou minha atenção mais do que tudo. Algo tão singelo quanto uma capa. Algo tão complexo quanto uma capa. Ou tão esperto, a julgar pelo pedante nome de Smart Cover. Bem, algumas pessoas e empresas podem ser pedantes. Como diz uma frase que inventei agora, não há nada de errado em cantar de galo. Se você for um galo.




Esta Smart Cover é uma obra primorosa do design moderno. Basta ver o vídeo acima para entender. Ela foi desenvolvida em conjunto com o iPad 2, e não poderia ser diferente, pois só funciona graças a imãs que ficam escondidos dentro da carcaça do aparelho. Porque fazer essa capa? Jony Ive, mestre dos magos do design, talvez o designer industrial mais famoso do mundo, explica que, entre outras coisas, a capa anterior escondia o belo corpo de aluminio do iPad. Hey, se você pagou caro por isso, não vai querer esconder, certo? Então por uma razão puramente estética resolveram fazer diferente. Mas não é só isso. A capa funciona como suporte, em duas posições. E se encaixa automaticamente. E vem em várias cores. E o tecido interno também ajuda a limpar a tela. E quando você abre a capa, o iPad liga instantaneamente. E quando você fecha, ele desliga. Realmente parece uma capa esperta, quiçá (outra palavra que queria usar) mágica.


E eu fico só imaginando o tamanho do esforço e do carinho (sim, carinho) só para pensar nesse detalhe. Que agora já não parece mais um detalhe, é algo natural, que certamente só não me ocorreu pois estava muito ocupado pensando em outras coisas. Se eu tivesse que pinçar algo para exemplificar o que é a Apple, eu escolheria esta capa. Tudo está ali. A simplicidade, a elegância, a funcionalidade, a preocupação estética, a integração primorosa. Um toque de gênio.


É por isso que fiquei lendo vários artigos sobre o iPad 2 e porque vi a apresentação completa do evento de lançamento agora de madrugada (72 min). É como se eu estivesse vendo o lançamento de um filme. Até a qualidade da imagem é muito superior a dos filmes que geralmente se baixa por aí (nunca fiz isso). Esses keynotes são nada menos do que teatrais, cinematográficos, possivelmente ensaiados até a euxastão como o Oscar, mas que, ao contrário dessa cerimônia decadente, não parecem forçados, tem algo de substancial a dizer e repercutem por toda imprensa como poucas empresas conseguem em seus eventos. Qual foi a última vez que você leu uma notícia sobre um evento de lançamento de um produto da Microsoft?


E esses eventos são naturalmente aguardados com grande ansiedade e expectativa por uma grande comunidade. As piadas e estocadas nos "concorrentes" são um bônus que reforça o ardor dos fanboys e a ira dos hateboys. A Apple não é perfeita, claro, e tem várias coisas que me irritam em seus produtos. Ainda assim, o que eu mais admiro é o apreço pelo detalhe, mesmo que pareça insignificante, a busca incansável da união entre estética, funcionalidade e simplicidade. Como Mr. Jobs fala ao final do evento, a Apple está na intersecção da tecnologia e da arte. E para alguns (muitos), perto de uma religião. Glória a Jobs, senhor.



sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Slightly Off-Kilter

Bedazzling.


I was looking at a picture (not actually the one shown here, as I couldn't show the real picture for privacy issues). It portrays a young woman wearing a very beautiful face. For some reason, I couldn't get my eyes off her. And I couldn't get my head out of it as well. And I kept coming back for more. 

I began thinking why it is so. It's not as if I'm in love or anything like that. It's just that this girl has something that I couldn't quite put my finger on. And then I realized what it was.

Her eyes. 

Her glance. 

Her gaze. 

It has a kind of hypnotic quality, so that one cannot help but stare at this truly bedazzling glare. A Glare that exerts a kind of bedazzlement upon me, with a luminance strong enough to light a light in the mind's eye.

I came to my senses as to the reason of this entrapment that I found myself into. And I assigned it to a very particular quality of hers, which is that her eyes are slightly off-kilter. Normally one would think that this is not desirable, and surely most of the time that's the way it is. But this girl, she's different. Slightly off-center, but just rightly so, subtle yet noticeable to an attentive mind. The luminous power it exudes puts me on a state of trance hard to get out of. And yet I crave for this, for it bewitches me, it inspires me, it entangles me in knots I'm not really sure I'd be willing to get rid of. 

Hope springs eternal.