"Far away there in the sunshine are my highest aspirations. I may not reach them, but I can look up and see their beauty, believe in them, and try to follow where they lead"
Louisa May Alcott - 1832-1888
Cerca de 4 anos atrás, eu pensei seriamente em fazer uma tatuagem. Nunca eu havia me interessado ou cogitado uma, mas circunstâncias da época me fizeram interessar pelo tema. Eu precisava então decidir qual seria a tatuagem a ser feita. A âncora, o coração, as estrelas, o índio, o dragão, a tribal, nada disso me fascinava. As inscrições em chinês/japonês/coreano/oriental então, mais do que isso: as abomino. Nunca poderia casar com uma mulher que tivesse uma tatuagem em chinês/japonês/coreano/oriental (paz, felicidade, amor, sabedoria e alegria, são basicamente essas as palavras que as pessoas usam). O que eu não entendo é porque tem que ser em japonês??? Claro, parece mais sábio, afinal eles são sábios, e se escrever em português, bom aí é vulgar e coisa de gente burra. Vai entender... Latim é aceitável, desde que não seja Carpe Diem, e grego é exótico, e portanto bonito. Mas enfim...
A minha tatuagem deveria ser algo que tivesse um significado profundo para mim. Não são muitas coisas que se encaixam: meu nome (nunca a de uma namorada! Apagar depois é muito caro), minha família, alguma frase "sábia", alguma letra de música ou poesia, o nome de uma banda (Oasis)... Ou... algo relacionado a ciência, que sempre me fascinou e sempre me fascinará. O símbolo atômico? A estrutura do DNA? O homem vitruviano? Mas o que mais me fascinava era a biologia. Eu estava no mestrado e minha dissertação era baseada na psicologia evolucionária, estando totalmente imerso no mundo da Teoria da Evolução.
Então, a consequência lógica disso era que minha tatuagem seria.. bem, ninguém menos do que Charles Darwin. Sim, o meu braço teria por todo o sempre a foto clássica do velho barbudo, a espantar colegas de trabalho, pessoas na praia e namoradas. Mas eu não me importava, isso tem um significado para mim. Se alguém pode tatuar um índio anônimo, eu poderia tatuar o meu herói científico.
Porque então meu braço hoje continua tão branco quanto sempre foi? Não sei, em algum momento desisti. Talvez a perspectiva de eu espantar qualquer mulher que fosse, nunca mais casar ou ter filhos e viver em celibato fosse um pouco demais para mim. Talvez eu nunca tenha cogitado seriamente, só tenha pensado como um exercício teórico do tipo "E se eu tivesse uma tatuagem, qual seria?". Parte da explicação certamente tem a ver com um episódio bem pessoal envolvendo minha namorada na época, que decidiu fazer uma tatuagem - o que inicialmente me chocou, pois eu achava que a conhecia. Sempre achamos que conhecemos as pessoas das quais somos íntimos. Não. Não conhecemos a nós mesmos, quanto mais outra pessoa. Eu, para provar algo que não sei o que é, pensei que deveria fazer uma também.
Me arrependo de não ter feito? Não, porque ainda posso fazer ela a qualquer momento. Quero? Não, na verdade passou. Eu estaria arrependido se a tivesse feito? Provavelmente não pois a indelebilidade da tatuagem acionaria meu mecanismo de redução de dissonância cognitiva e eu acharia todos motivos para me convencer de que ter feito a tatuagem não só foi bom e certo, como foi o fator responsável por uma transformação pessoal que mudou minha vida e me catapultou ao sucesso. Ok, sou um pouco dramático mesmo.
Mas toda essa história é pra lembrar que esse ano se comemora o aniversário de 200 anos do nascimento de Charles Robert Darwin e 150 anos do lançamento do mais importante livro científico já escrito. Um homem, solitário, sentado sobre o ombro de gigantes, mudando a história do mundo. Esse é o poder da ciência, o poder da humanidade, o poder da beleza, o poder da curiosidade, o poder do amor. Nem tudo está perdido. Espero termos muitos outros Darwins, embora eu já tenha desistido de ser o próximo, como um dia eu sonhei. Mas posso, sim, apreciar a beleza que há em tudo isso. Darwin conclui sua obra com um dos parágrafos mais famosos da história da ciência:
"Há uma grandeza nessa visão da vida, com seus diversos poderes tendo sido originalmente insuflados pelo criador em poucas formas ou numa; e que, enquanto esse planeta tem seguido circulando de acordo com as leis fixas da gravidade, de um início tão simples uma infinidade das mais belas e maravilhosas formas tenha evoluído e esteja evoluindo." (Darwin, 1875, p.429)
Bravo, Darwin!
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