Anotações aleatórias no meu "notebook" |
Escritores são arquitetos. De imagens e sentimentos. Nem sempre para os outros mas sempre para si mesmos. Li uma vez e concordo: nunca escrevemos ou choramos pelos outros. É sempre por nós mesmos que choramos. Se atingimos um outro é porque tocamos em algo profundo, uma corda que ressona como um Lá maior, que não importa o instrumento ou o lugar, sempre vai vibrar na freqüência exata de 440 Hz (ou múltiplos disso). Mas o timbre sempre é único.
E sendo tão particulares como o timbre de uma voz, única entre 7 bilhões de pessoas, entre todas as pessoas que existem, existiram ou existirão, às vezes conseguimos tocar o âmago de toda humanidade, tornando assim uma única voz na voz de todas as pessoas. Do particular para o universal. Só conseguimos isso sendo o que ninguém é, fora nós mesmos: sendo nós mesmos. Fernando Pessoa já disse: o poeta é um fingidor. Finge a dor que nem mesmo sente, mas que já sentiu ou imaginou sentir. No fim, somos o que fingimos para nós mesmos.
Às vezes penso se o que escrevo é bom. Algumas pessoas já me disseram que é, e sou grato a elas. Mas há algo que importa mais do que escrever bem. E isso é simplesmente escrever. Ou pintar. Ou criar, qualquer coisa, de qualquer maneira. Por que? Porque isso é algo que só você pode fazer, criar o que é seu. Não importa a qualidade, importa que é seu e tudo que você criar só podia ter sido criado por você.
Há uma frase que expressa bem o que quero dizer: há um chapéu onde antes não havia nada. E há porque você fez aquele chapéu. Por isso sinto um prazer imenso sempre que acabo de escrever algo, olho para o que escrevi como se fosse um filho. Tudo o que você cria, sozinho ou com alguém, é filho seu, com seu DNA, mutante ou não.
Olhe para ele com carinho. E continue tendo filhos, eles sobreviverão a você, e serão sua marca no mundo, por menor que seja essa marca. Não pisar tão de leve que ninguém perceba nem tão forte que destrua. Foi algo assim que meu colega Mateus Grasseli falou na noite da formatura de 2º grau do colégio Leonardo Da Vinci, no final de 1993. Momentos que não voltam mais, e que, no entanto, nunca nos deixam.
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