segunda-feira, outubro 02, 2006

Selffuckfillingprophecy

A porra da profecia auto-realizável...

A vida tem sentido, não tem? Depende de quem responde. Se você acredita que tem, então tem. Mas objetivamente falando a vida não tem um sentido, e Freud já dizia isso, uma das (poucas) coisas em que ele acertou.

No livro “Cachorros de palha” (Editora Record, R$29,52) o filósofo John Gray nos convence de que nossas vidas não têm sentido. Ou melhor, que não somos nem menos nem mais do que qualquer animal. Nos consideramos tão especiais, somos os únicos a ter isso, os únicos a fazer aquilo, os senhores da Terra e do Universo. Deus foi feito à nossa semelhança. Então somos especiais.

Mas no fundo vivemos numa ilusão. É ruim? Na maior parte das vezes não. O auto-engano é a mais sofisticada de nossas invenções, principalmente porque não nos damos conta dela. E ele também acerta quando diz que não buscamos a verdade, só sofredores querem a verdade.

Nós queremos sexo, comida e dinheiro.

O sexo como motivação última e muitas vezes inconsciente de nosso comportamento, como frisava Schopenhauer. Aliás, a maior parte de nossa vida é inconsciente, muito mais do que nos damos conta ou do que gostaríamos. Nos imaginamos senhores da Terra, mas não somos nem mesmo senhores de nós mesmos. O livre-arbítrio, a capacidade de escolha são as maiores ilusões criadas pelo nosso cérebro. Não há self, não há homúnculo, a maior parte de nossas decisões são tomadas sem sabermos porque, sem que tenhamos tido uma influência consciente. O acaso faz maior parte de nossa vida do que gostaríamos, as maiores decisões a nosso respeito foram tomadas por nós sem nenhuma possibilidade de nossa influência (onde nascemos, quem são nossos pais, nossos genes).

E no fundo somos muito parecidos uns aos outros, muito mais parecidos do que diferentes, por qualquer medida que se queira usar. Nós, como espécie, somos incrivelmente parecidos entre si. No entanto, esquecemos disso e acabamos nos concentrando nas diferenças, que naturalmente são o que se destaca. Mas assim, como todos os leões de todos documentários parecem ser exatamente o mesmo leão, aos olhos de um leão qualquer homo sapiens seria indistinguível dos outros.

Apesar de tudo, nos achamos especiais, e isto não deve surpreender, pois faz parte de nosso maquinário evolutivo, mas é certamente é algo muito exagerado. Cada animal tem uma especialidade, tem aspectos únicos: golfinhos se comunicam por infra-som, caçam presas com sonar, tubarões percebem mudanças no campo elétrico, pombos se localizam através de um sistema de orientação em seu bico, num processo que só agora começa a ser entendido. E os exemplos são infinitos.

Sim, podemos ser o único animal que ri, que pensa no futuro. Mas por outro lado nosso olfato é horrível, nossos bebês são os mais frágeis, nossa visão noturna é a de um cego em comparação à visão dos felinos, nossa audição é a de um surdo comparada entre muitas deficiências. Cada animal desenvolve capacidades únicas que os permitem se adaptar a seu meio e sobreviver. Nada de espantoso nisso. Quer dizer, a vida é espantosa, mas o processo é rigorosamente o mesmo para todos seres vivos.

E a morte nos confronta com o que não queremos confrontar: a preciosidade da vida, este breve instante que temos e que é o único que teremos para fazer algo. Não vale convocar a vida eterna. Temos horror ao fim. Não nos percebemos como parte de algo maior. E esse algo maior não está se lixando para ninguém, não há salvação pois não há do que se salvar.

E agora meu vô não está mais aqui em casa. Ervino Aloysio Flach. Foi enterrado hoje pela manhã, em Alto Feliz, ao lado de minha vó que não conheci. E agora meu primo Gustavo está sentado na cadeira que meu vô usava todo o dia, em nossa casa, em Nova Milano, onde ele conviveu conosco nos últimos 20 anos.

A chuva é constante, a cerração é a usual, o clima é de um dia de inverno como tantos outros. Mas agora há um vazio a mais. Uma cadeira sem dono. Um quarto sem ocupante. Um livro sem leitor. A poltrona, fica ao lado de uma janela de onde se pode ver o jardim, com as flores que ele tanto gostava e cuidava, além de algumas araucárias e casas ao longe. Não é uma vista espetacular, mas é bonita. O calendário na parede marca o dia em que ele saiu para o hospital, 7 de agosto. Um calendário que ele sempre virava a página, sempre com uma foto de um animal e um dizer supostamente sábio.

E agora não há mais como saber se ele gostava do calendário, se ele gostava dos bichos, dos dizeres, dos dois ou de nenhum. Há mais um monte de coisa que nunca mais saberemos. Sempre parecia que haveria tempo para contar mais histórias. Tempo para sentar e fazer entrevistas, desvendar o passado de todos antepassados, desvendar as vidas e as histórias. Eu me culpo por isso, me culpo por ter ouvido pouco as histórias de meu vô, de ter lhe contado tão pouco da minha vida. Mas nem para meus pais eu conto muito. E o vô gostava de falar, falava de muitas coisas, de amigos, desafetos, visitas, parentes. Falava de e falava com. E às vezes não deixava ninguém falar :)

Mas agora todo mundo pode falar, eu posso falar horas com ele e não vai haver resposta. Tenho que me consolar com as respostas que tive, com os exemplos que ele me deu. No geral, teve uma vida aparentemente resignada, mas é aparente pois no fundo ele tinha suas motivações e fez suas escolhas. Teve sofrimentos e alegrias, como qualquer um. Amava sua família. Amava sua terra. Amava a música. Amava as flores. Amava a leitura. Amava ensinar. Amava falar. Amava contar suas histórias. Amava viver. Amava distribuir, não queria guardar para si, não tinha praticamente nada mas tinha o que o fazia feliz. Estava com amigos, estava com sua família e isso bastava.

Adeus, meu vô.


H. Schneider
14 de agosto de 2006


Para saber mais sobre o excelente livro "Cachorros de Palha", leia a entrevista com o autor John Gray aqui

segunda-feira, junho 12, 2006

Divagações sobre a paixão

“Baby, it’s been a long time waiting
Such a long, long time
And I can’t stop smiling, no I can’t stop now
Do you hear my heart beating
Can you hear the sound?”

Gravity, por Chris Martin e Embrace



E então é Dia dos namorados...

Peraí, mas não seria melhor “Dia dos .... Apaixonados”?? Sei lá, prefiro a paixão.

E paixão e amor não são a mesma coisa, não mesmo, nãnarinãnã. A paixão é mais intensa e fugaz, mais impulsiva e obsessiva. Segundo as mais recentes descobertas da neurociência, a paixão se assemelha a uma droga como a cocaína, pelos efeitos que provoca no cérebro e no corpo. Mas isto você já sabia – quer dizer, não precisa ter cheirado uma carreira pra saber da euforia de um apaixonado, basta ter sofrido de uma paixão. Outro fato descoberto sobre a paixão é que ela tem uma duração limitada e curta, não passando de 2 anos, e na maior parte dos casos durando menos de 1 ano! E isto, meu caro ex-apaixonado, você também já sabe. Depois de um tempo, a paixão pode virar outra coisa: vira amor ou acaba totalmente - e aí a gente parte pra conseguir outra carreira.

A duração tão curta da paixão não é por acaso: é o tempo necessário para um casal engravidar e ter um filho, isto considerando que os dois sejam “normais” e façam sexo com freqüência (3 vezes por semana está bom). E claro, desde que a mulher não tome anticoncepcional e o cara não tenha o “saco vazio”, produzindo aqueles espermatozóides todo errados e mutantes que vemos nos documentários sobre infertilidade. Ou seja: a paixão não deixa de ser um truque da natureza para mantermos nossa espécie. Aliás, como tudo na vida tudo não passa de um truque da natureza, e sempre acabamos tropeçando na evolução.

E como acontece com a maior parte dos truques em que caímos, dificilmente nos damos conta do quão pouco decidimos sobre o que desejamos e por quem vamos nos apaixonar. Amor à primeira vista, saca? Sim, ele existe. Ou melhor, atração à primeira vista, desejo à primeira vista, paixão à primeira vista. Faça o teste: quanto tempo você precisa olhar para uma pessoa para decidir se ela é atraente ou não? As pesquisas comprovam que isso acontece em menos (!!!) de um segundo. Sim, nosso cérebro muitas vezes é mais rápido que nossa consciência.

Mas enfim, por que estou escrevendo tudo isso? Ah, sim. Porque hoje é meu aniversário, é Dia dos Namorados, e eu estou sozinho num hotel em São Paulo. Porque me sinto tão cinza? Não estou triste, longe disso. Mas sabe quando falta alguma coisa? Sim, você sabe, talvez falte algo para você neste exato instante também. Você pode até estar namorando, mas quem diz que está feliz? Conheço muitos casais que estão juntos apenas porque não têm coragem de admitir que a relação já não traz mais alegria. O tesão se foi, a paixão acabou, o amor até pode existir, mas falta uma chama. E assim vamos vivendo, juntos. Mas só porque nos acomodamos ou não achamos alguém melhor. Naturalmente, isto não vale para todos casais, mas olhe ao redor e veja que vale para muitos (espero que não para você).

Mas minha melancolia, eu acho que sei de onde vem. Faz muito tempo que não me apaixono, mal me lembro de como é estar apaixonado. Esta é basicamente a causa deste súbito ataque de auto-comiseração ridículo. Pois como já dizia o gênio da poesia, todas cartas de amor são ridículas, não são? E esta não deixa de ser uma carta de amor. Um dia até fiz uma frase sobre essa dificuldade de se apaixonar novamente: “You can love many times, but you only fall in love once” (você pode amar muitas vezes, mas só se apaixona uma vez). Hoje acho que isso é uma baita besteira. Sei que pode acontecer de novo, e a uma nova paixão é até mais provável do que um novo amor.

E o que eu quero, o que eu quero muito, com todo meu coração, é me apaixonar loucamente. Quero aquelas paixões de ficar o dia inteiro pensando em minha amada, sentir aquele frio na barriga quando a ver, sentir o arrepio na espinha se espalhando pelo corpo quando ela me abraçar, perder os sentidos quando ela me beijar. Só isso.

Mas quem é ela? Como disse Churchill em relação às mulheres: “uma adivinhação, embrulhada em um mistério, cercado por um enigma”.

E no próximo ano, no meu aniversário, no próximo Dia dos Namorados, quero comemorar meu Dia dos Apaixonados. Quero estar apaixonado. Não!!! Me corrijo: quero estar loucamente apaixonado.

Quero estar perdidamente, irremediavelmente, insuportavelmente apaixonado.

É querer demais? Acho que não. E o que seria de nós sem nossos sonhos? Então me deixa sonhar, viver meu sonho e ser loucamente feliz. Coragem, então!!

H. Schneider
12-06-2006, São Paulo

sexta-feira, abril 14, 2006

I see it in your eyes

“I see it in your eyes..
I see it in your eyes..
You’ll be allright….
You’ll be alright…”

Athlete - Wires

Como é bom estar aqui em cima, como o mundo é bonito aqui de cima..tudo tão pequeno.. a cidade tão bonita.. tudo é tão pequeno.. o sol está alto....Parece que os problemas ficaram todos para trás, os nossos problemas parecem tão pequenos aqui de cima...

E não são? Não são todos eles problemas pequenos? Nossa história não é a história de todo mundo, tudo sempre repetido, do início até o fim?.. a história da humanidade se repete sempre em cada homem... nada de novo sob o sol..

Mas cada vez é um pouco diferente, cada vez é única porque afinal somos nós. Não é? A absoluta imprevisibilidade da vida.. não é isso que faz tudo ficar mais emocionante? Os amores vêm e vão.. quem sabe onde estará o próximo.. quem sabe o que vai acontecer na próxima esquina... ainda assim, dói, dói sempre que acaba, não é? Apesar de tudo foi bom, acho que estamos melhor assim.. talvez algum dia nos encontraremos de novo.. talvez... quem sabe.... agora não... talvez nunca mais, mas de qualquer forma foi legal, não foi? Teremos histórias bonitas para contar...

Afinal a vida é vulgar, um filme envelhecido, ..................

"Meu caro apaixonado, você não sabe que o romance nada mais é que o amor antes de dar errado? E você não sabe que, se a flor não for esmagada assim que florescer, então, dez anos depois, você vai estar empurrando um carrinho de bebê para o supermercado se perguntando: "Mas onde estará o meu verdadeiro amor?". E ele estará ali, diante de você, só que ficou frio e distante, olhando para datas de validade. Ah, o romance! O romance é jantar com um anjo e tomar café com a tristeza. Sempre acaba em lágrimas. Mas a vida é vulgar, um filme envelhecido, até começar de novo, até a próxima vez."

Até recomeçar... até a próxima vez..............

Um beijo

OBS: mais uma carta a nunca ser enviada mas escrita porque eu precisava, dentro de um avião num belo entardecer saindo de Porto Alegre, e vendo a cidade tão pequena e bela lá embaixo e lembrando de pessoas que tocaram minha vida, e derramando uma lágrima por elas e por mim (e ouvindo a belíssima Wires, do Athlete, na mais fantástica invenção da humanidade: o iPod de 20 GB. Obrigado, Steve Jobs!)

segunda-feira, agosto 15, 2005

Sin City: uma história de amor

Ah, o tempo para escrever...
Já era hora.
Foram tantas coisas que passaram, tantas idéias, choros e risadas.
Acho que é a hora para recomeçar.

Sobre o que então?

Um filme.

Sin City.

Vi neste sábado. Não esperava tanto do filme. Não é o melhor filme que já vi, nem mesmo o melhor filme que vi no ano (Closer, sobre o qual espero escrever ainda). Ainda assim, é já um dos clássicos do cinema, filme sobre o qual se escreverão dissertações e teses. Ou nem tanto, mas pelo menos já garantiu seu lugar na história do cinema.

Em primeiro lugar, há uma inovação de forma, e só por isto o filme já mereceria apreciação. Não é preciso escrever muito sobre este aspecto, muitos outros já escreveram e com certeza com mais estilo e conhecimento do que eu. Basta dizer que é a transposição mais fiel possível de uma história em quadrinhos para a tela. Folheei os exemplares de Sin City na livraria, e é de cair o queixo a fidelidade do filme de Robert Rodriguez à história de Frank Miller, tanto em forma quanto em conteúdo. O filme é muito belo, prende a atenção e, em muitos momentos, nos deixa estupefatos, como em alguns dos melhores filmes de ação. A história em quadrinhos original é praticamente um script do filme, um story board. Talvez uma boa e sucinta definição do filme seja a de que ele é um “story board animado, com cara de story board”.

Bom, deixando de lado os aspectos formais, que, repito, por si só já valem o ingresso, existem as histórias, os personagens, a trama. E isso é algo pouco comentado, mas a meu ver é um dos pontos altos do filme e que o faz transcender o meu medo de que ele fosse meramente um exercício formal - ou pior ainda, um besteirol de ação como os que estréiam todas semanas mirando no público idiota dos adolescentes (entre os quais me incluo muitas vezes, mas os filmes não deixam de ser idiotas. Pelo menos, alguns são divertidos).

Então... basicamente Sin City é uma (três, na verdade) história de amor. Belíssima, sem clichês, exagerada, violenta, fascinante, incomum, mas ainda assim, uma história de amor. Por baixo de toda ação e pancadaria rolam magníficas histórias de amor. Dito assim, parece banal, afinal muitos filmes têm como substrato uma paixão, um relacionamento, um caso de amor. Mas não são muitos os filmes de ação que mostram com tanta pungência e profundidade histórias de amor como Sin City mostra. Na primeira história, vemos o amor de um homem (Bruce Willys) pela justiça e por uma menina, que ele salva das mãos de um assassino-estuprador sádico e bem protegido pela influência de seu pai. Na segunda história, vemos o amor de um bruta-montes com o rosto deformado (Mickey Rourcke, praticamente irreconhecível) por uma prostituta, Goldie, que o acolhe e o ama sem se importar com sua aparência, mas que é morta a mando de pessoas influentes. Rourcke então parte atrás de sua vingança, derrubando tudo que encontra em seu caminho. Na terceira história, vemos como um namorado (Clive Owen, que também estava em Closer) de uma stripper vai atrás do ex-namorado violento e repulsivo desta stripper, para lhe dar uma lição, mas que acaba desencadeando uma “guerra” entre diversas facções da cidade (prostitutas x policiais/máfia).

Em todas histórias, torcemos para que os mocinhos ganhem e acabem com os bandidos. Aliás, a clássica história do bem contra o mal também é um dos temas que perpassa todo filme. Poucos filmes, no entanto, o fazem de forma tão violenta e fascinante. Somos conduzidos a uma espécie de catarse moral, onde botamos para fora todas nossa raiva pelas injustiças do mundo e pelas injustiças que sofremos na pele. Podemos assim nos imaginar matando e quebrando todas aquelas pessoas que em algum momento gostaríamos de ter quebrado ou matado, finalmente nos vingando por todo sofrimento que elas nos impuseram. Obviamente, não vamos sair por aí fazendo isso, mas a possibilidade de fantasiar sobre esse tema, de liberar nossos instintos mais inconfessáveis, mais animais e primitivos tem algo de terapêutico (e obviamente, os psiquiatras e psicanalistas sabem disso há muito tempo). Isto Sin City também oferece.

Junte todos ingredientes então e teremos um filme de visual fantástico, com efeitos causadores de baba, com atores e atuações primorosas, com histórias interessantes e roteiro bem amarrado, que vale por uma sessão de terapia mas é muito mais barato. E ainda por cima, é uma história de amor. O que mais podemos querer de um sábado à noite?

sábado, dezembro 13, 2003

Uma Nova Esperança

E aí meu! Tudo certo? Olha só, tu lembra aquela mina por quem eu fiquei apaixonado no teu baile, nem sei se te falei direito sobre isso? Talvez agora seja uma boa hora pra falar então :)

Bom, enfim, o nome dela é Elena (ah, minha deusa!!! [suspiros]), altona, magríssima, boazudíssima, com um piercing bem pequeninho de brilhante no nariz, cabelos loiros e olhos cor de mel. Ela tava junto com duas barangas que ficaram bem perto da tua mesa e até o Renato foi trovar uma delas bem no fim.

Eu já tinha visto ela no dia anterior, com as duas amigas barangudas, na tua cerimônia e ela ficou me encarando, dando uns risinhos. Até falei pro Renato, "Bicho, que mulher!!!". Acho que eu até te mostrei ela. E depois me arrependi de não ter falado com ela, mas eu prometi pra mim mesmo [obs: agora imagina uma trilha épica, tipo Coração Valente, e eu olhando para o céu azul e gritando como Scarlett Ohara em O Vento Levou], que "Se algum dia eu visse ela de novo, eu pelo menos iria falar com ela!!!!"

E eu vi! No teu baile, eu já estava puto da cara pq não tinha visto ela, tava nervoso, com uma cara emburrada, não queria chegar em mais ninguém. Era ela ou nada (tudo bem, confesso, eu abriria sim uma exceção pra Gisele. A Bundchen, é claro).

Até que lá pelas 4 da matina, eu resolvi dar uma volta pra esfriar a cabeça. Fui dar uma volta lá pelos banheiros, dei aquela mijada providencial e restauradora e estava voltando pro salão, quando de repente, sem avisar, como num sonho, como que enviada pelo próprio Espírito Santo, surge do nada (quer dizer, não foi bem do nada, foi da porta principal, mas isso são licenças poéticas né?) ELA. A mulher da minha vida. A mulher dos meus sonhos. A mãe dos meus filhos. A deusa loura enviada por Zeus. A perfeição feita mulher. O amor maior que eu.


Eu quase desmaiei, olhei pra ela como se eu visse um fantasma e ela me viu também, passou bem do meu lado, fez um olhar triste, bem diferente do olhar alegre e promissor do dia anterior, como que pedindo ajuda.. E eu não poderia recusar ajuda a ninguém, com essa minha alma de bom samaritano, quanto mais a alguém que me pede tão explicitamente assim. E aí a história começa a complicar um pouco, mas nada que a gente não supere :) Ela estava com um carinha, que supus fosse o namorado dela e aí caiu a ficha, tipo assim, "Hello McFly, tu acha que uma deusa dessas não ia estar com alguém? Dãaããã...."..

Mas nem isso iria me impedir [trilha épica novamente] !!!!! A sorte ou providência ou acaso ou desejo ou coincidência ou destino foi que o namorado dela estava indo pro banheiro e ela tinha vindo até ali pra acompanhar ele. Vi que ela se despediu dele e se escorou no alambrado que circunda a escada e ficou ali olhando pra baixo, como que procurando a saída, com um olhar um tanto vago, de costas para mim. E Deus, ela era linda! Com um vestido preto, daqueles que sugerem mas não mostram - que são os melhores, eu diria - com os cabelos loiros compridos e sedosos, com a barriguinha de fora mostrando a pele morena e os músculos no lugar. Pensei comigo mesmo (o que não deixa de ser um pleonasmo, né pq afinal tu é a única pessoa com quem tu pode pensar alguma coisa :): "Hermes,é agora ou nunca, alguém quer que tu seja feliz e te botou essa mulher aqui na tua frente. Tu pode aproveitar agora e mudar tua vida (ou ao menos tentar) ou se arrepender para sempre." Eu decidi tentar mudar, e hj posso dizer que foi a coisa mais certa que já fiz na vida.


Sem pestanejar, parti pro ataque sem dó, como um leão faminto que viu o primeiro pedaço de carne após uma estiagem de 12 meses [trilha do Tubarão]. Cheguei perto, ela estava de costas, encostei suavemente no ombro dela, esperei ela se virar [sem trilha, slow motion na virada de cabeça, mostra a face por cerca de 5 segundos, depois congela a imagem com um sorriso] e vi pela primeira vez tão perto de mim aquela cara pintada por Botticelli, ou aquela face pintada por Vermeer em A Moça com o Brinco de Pérolas [segue 20 ou 30 segundos de metáforas visuais, mostrando os quadros e mulheres mais belas da humanidade, com uma trilha agora de Coldplay, tocando Amsterdam, ou Pachelbel, de Canon, ou Some Might Say, do Oasis].

Sim, ela tinha sido pintada ou esculpida. O Autor daquela obra para mim ainda é desconhecido, mas basta dizer desde já que é um dos gênios da raça.

Recuperando todas minhas forças e retornando do estágio de pré-coma em que eu estava, insipirei o ar e disse:

- "Tu és a paixão da minha vida. Foge comigo pra onde tu quiser, faz comigo o que tu quiser, me enlouquece agora mesmo."

Obviamente não foi isso que eu falei, mas era o que eu queria falar, então se a versão é melhor que os fatos, conte-se a versão :). Se bem que ficou uma coisa assim meio Wando, né?

Tá bom, vou contar o que eu disse de verdade, mas só pra vcs: "Oi, tudo bem? Eu vi que tu tens um namorado mas eu só queria saber teu nome."

E ela sorriu e falou: "Elena, ....... com E".. Ah meu Deus, ah meu Deus, pq ela foi tão cruel? Elena, com E? Como alguém poderia resistir àquela mulher, àquela Elena com E? Fuck!....


Mas continuando, eu disse: "Sabe, eu te vi ontem na cerimônia e me arrependi de não ter falado contigo. Eu prometi a mim mesmo que se eu te visse outra vez eu falaria contigo."

E ela deu um belo sorriso, e nesse momento eu faleci. Ressuscitando logo após, eu ouvi ela dizer "Ai, assim tu me deixa sem graça". Maldição, mil vezes maldição, eu devia ter previsto que isso ia acontecer, que eu ia me apaixonar instantaneamente. Mas eu não conseguia parar, foi como um vício.

Eu: "Desde que eu te vi não consegui parar de pensar em ti. De onde tu és?". Êta pergunta besta, né? Eu já devia ter notado que ela era divina, dos céus, do mares, sei lá daonde vem as deusas..

Mas ela disse: "De Florianópolis. E tu?"........ Espera aí, vamos com calma agora, muita calma. Deixa eu ver se entendi, ELA, a deusa, quer saber algo sobre mim? ELA me perguntou algo? ELA demonstrou interesse por mim?
Após ter entrado em coma, falecido e ressuscitado, eu agora estava no Paraíso, no Éden, de onde nunca devíamos ter saído. Obrigado Deus!

Falei: "De Porto Alegre."

Ela: "Que pena" [nota do diretor: sem comentários]

Ela: "E tu, tá gostando daqui?"

Eu: "Depois que te vi tudo ficou melhor" (tenho que reconhecer que eu estava inspirado, mas com a ajuda do Espírito Santo, qualquer um consegue, né?)

Ela: "Ai, tu tá me deixando sem graça de novo" [sorrindo e me matando pela segunda vez]

Eu [novamentre ressuscitando, e desta vez voltando à Terra, que para mim ficou sendo a partir daí o próprio Purgatório de Dante]: "Tu podia me deixar teu telefone, né?"

Ela: "Ah.. ia ser meio chato." [chato pra quem, cara pálida?]

Eu [olhando pro banheiro pra ver se o namorado dela não estava voltando e já me preparando para uma das duas reações clássicas em situações de perigo: o enfrentamento ou a fuga]: "Ah..pelo menos o e-mail tu podia me dar..." [fazendo cara de triste, tipo cachorro molhado]

Ela [novamente rindo e parecendo desta vez excitada]: "SIM, o e-mail sim! Tu vais decorar?"

Eu [internamente: Ahahauhauhauhauhauhauahuahuahehuaehuaheuaheuaehuehua, tu vai decorar? tu vai decorar? hauehuaheuhaeuahuehauhuhauehuehuaheuaheuahuehauheuahuhauehuaehuhauehau.... Nem se teu e-mail fosse a própria Bíblia completa escrita em aramaico, eu esqueceria..(hei, não seria legal: meu mail é
enoprincipiodeusdissefacasealuzehouveluz....@paraiso.com.universo)]

Mas voltando, eu respondi: "Ahãã, eu decoro"

Ela [curvando-se em minha direção e falando o e-mail como se fosse um segredo] "É elena_loira@hotmail.com, , tá?"

Eu disse: "Tá, foi ótimo te conhecer. A gente se fala. Tchau"

Ela: "Tchau"

Ahhhhhhhh meu santo Cristo, aí começou meu calvário....


Obviamente, na segunda quando cheguei em casa a primeira coisa que fiz foi escrever um mail pra ela. Escrevi pouca coisa, eu estava com pressa, do tipo: "Lembra de mim? Sou o carinha do baile. Não consegui te esquecer, etc.."

Mas, ELA não me respondeu. Não deu sinal de vida, nicas de catipiriba....

Bosta de e-mail!!! Maldito hotmail, maldito Bill Gates, nerdcornofilhodumaputa (começo a achar que ele interceptou meu e-mail, e que a Elena nunca chegou a ler, afinal tu sabe que o Gates é o próprio cramunhão, não :)

Deve ter caído na caixa de lixo eletrônico, até pq ela nao tinha meu e-mail gravado. Que ironia da vida, não? Uma vida destroçada por que meu nome se parece muito com o daqueles mandadores de spam "Buy Viagra now!", "Enlarge your pennis", Rodnick Smith, Chamberley Chanders, Sarah Flickney, Selton Roberts, Hermes Schmitz,.... [sniff, sniff, sniff..] Mandei outros 2, mas novamente não tive resposta. Acho que ela está férias, ou desativou o e-mail (não quero nem pensar na possibilidade dela ter lido e não ter respondido. Isso para mim seria o fim (da picada :)

E tem mais, acho que ela estava brigada com o namorado. Depois que falei com ela, ela ficou com uma cara emburrada na mesa e nem falava mais com o carinha. Depois até ela caiu no meio do salão, coitada, e olhe só que coincidência, foi o Renato que ajudou ela a se levantar. Eu até cheguei pra ele: "Ô meu, tira a mão da minha mulher :)". E ele nem sabia que era ela, eu até já tinha contado toda essa história pra ele. A parte sórdida, e que fique entre nós, é que ele me disse: "Ahahaha, eu até peguei no sovaco dela pra ajudar a levantar."..Obviamente, eu tive que cheirar a mão dele para ver se tinha restado alguma réstia daquele perfume, daquele bálsamo, daquela poção mágica.. Mas naturalmente, a mão do Renato só tinha uns cheiros esquisitos que nem me atrevo a comentar...


No fim da festa, encarei ela pela última vez, e ela novamente me jogou aquele olhar SOS. Bixo, eu TENHO que ajudar essa criatura!! Ela saiu do baile com as duas amigas "nem-tão-esteticamente-privilegiadas", para sermos politicamente corretos, e deixou o carinha no baile. Esse cara não sabe o que está perdendo. Não sei por que ela estava na formatura, [quer dizer, no fundo ela estava lá para me encontrar :], se era esse carinha dela que tinha se formado ou uma amiga/amigo dela. Acho que era uma amiga. Sei que a mesa era quase do lado da nossa.

Bom bixo, finalizando esta épica história (vamos torcer pra que ainda tenha final feliz), queria te pedir uma força pra ver se descobres o nome completo dela, ou o telefone, ou um outro e-mail, ou o endereço, ou onde ela estuda, sei lá... qualquer coisa sobre ela. Sei que com teus poderes Silvísticos (ma ahhai, ihhhiii, ma quer dizer que vc se apaixonou, ahhai...) tem pouca coisa que tu não conseguiria. Ficarei eternamente grato a ti (e tu será o padrinho do meu casamento :)

[N. do E.: infelizmente a deusa não foi mais encontrada. Se alguém a ver, favor avisar. Isto é, se você não ficar apaixonado também]