sábado, julho 27, 2013

Teatro é foda...


Literalmente, um papelão!

De tempos em tempos surge uma obra fundamental, daquelas que deveriam ser vistas por todas pessoas. Esse tipo de obra nos dá uma visão do sublime, um lembrete do que o ser humano é capaz de fazer, seja essa obra uma peça, um filme, um texto, um quadro, ou até mesmo uma telenovela*.

Pois estreou ontem no Teatro Raul Cortez em São Paulo uma dessas obras que já nascem clássicas. "Três dias de chuva", de Richard Greenberg, tem um ótimo texto - sem isso, qualquer peça já nasce morta - indicado ao Pulitzer de 2007. No Brasil, é dirigida por Jô Soares. Se você ainda não está convencido, só digo uma coisa. Quer dizer, duas coisas. Não, melhor, três coisas:

1) Carolina.

2) Ferraz.

3) Figurino (só vendo a peça mesmo para ver as peças - ou a falta delas).

Pronto, convenci 50% dos meus amigos. Para as outras 50%, eu diria o seguinte.

A sinopse estilo guia de cinema da Zero Hora - ou seja, uma indicação tão crua que O Poderoso Chefão seria resumido como "Chefe da máfia de Nova Iorque resolve matar seus inimigos" - seria "Pai deixa herança que desencadeia conflito entre seu filhos e um amigo, com revelações surpreendentes sobre o passado".

Não dá muita vontade de ver né? Mas confie em mim, você vai sair do teatro pensando sobre sua vida, suas escolhas, suas relações com seus pais, seus amigos e também refletindo sobre o amor,  a fama, a importância do dinheiro (spoiler: não é tão importante) e sobre o que afinal importa na vida, entre outras coisas. E fazer tudo isso com seriedade, leveza e sendo muito engraçada ao mesmo tempo é mais raro do que encontrar carne de verdade numa esfiha do Habib's.

E quanto você vai gastar para ter toda essa experiência? R$ 60. Se você tem meia entrada, embora isso seja "raro", vai investir os melhores R$ 30 da sua vida - o que dificilmente pode ser dito dos R$ 30 que você pagou para ver Velozes e Furiosos 6 (?!?!) com um monte de teenagers aborrecentes falando ao seu redor** e aquele crunch crunch crunch da pipoca. (O cheiro da manteiga é um bônus extra adicional).

Aliás, acho que é só questão de tempo para essa peça virar um filme - em Nova Iorque, por exemplo, o elenco tinha Julia Roberts e Bradley Cooper -  e isso seria ótimo para levar a obra a muito mais gente. Agora, nada substitui a magia do teatro, pois como diz nosso filósofo dominical, quem sabe faz ao vivo, bixo! E como diz o próprio diretor, outro peso pesado da televisão mas recheado com conteúdo em vez de abobrinhas, "no teatro também se exerce uma profissão de risco, como os trapezistas. Teatro é trapézio sem rede."


Aplausos em pé para esses trapezistas.


  * Hahaha peguei vocês!

** Espantosamente, mas não de todo inesperado dada a minha sorte, uma guria começou a falar com o namorado atrás de nós, no que imediatamente virei a cabeça e lancei aquele olhar estilo laser para ela entender que não iria tolerar conversas. Funcionou. Por 10 minutos. Aí tive que a encarar novamente, fulminando-a por 5 segundos dessa vez, uma eternidade. Além disso fiz o clássico gesto de pshhh com o dedo, querendo dizer educadamente para ela que "PUTA QUE PARIU!!! VAI CALAR A PORRA DESSA BOCA OU NÃO PERCEBEU QUE ESTÁ NUM TEATRO???". Mesmo assim, ela não parou totalmente de falar, só diminuiu a voz. Que o Papa a excomungue e ela vá para o inferno

Naturalmente, tendo a sina que tenho, ela não era a única ao nosso redor sendo mal educada. Um senhor à nossa frente ria como uma hiena no cio a qualquer fala minimamente engraçada e ainda fazia adendos do tipo "essa foi boa! Huahsuaahsuahsuashusuhsh". Na saída da peça, vimos o Dráuzio Varela e quase pedi pra ele fazer um quadro no Fantástico sobre a epidemia da má educação no Brasil, doença que acomete todas as classes sociais. Acho que está na hora de implantar a PEC do Silêncio nos teatros e cinemas. 

quinta-feira, dezembro 27, 2012

Eu te amo?

"A maior felicidade da vida é termos a convicção de que somos amados - amados pelo que somos, ou melhor, amados apesar do que somos"
Victor Hugo, Les Misérables

A vida é dura, amigos.

Não sei você, mas pra mim, o problema do eu te amo, principalmente do primeiro eu te amo num relacionamento* é a pesada carga simbólica implícita que ele carrega, advinda de milhares de filmes, livros e histórias açucaradas**. Em português claro agora: quando uma pessoa ouve eu te amo, na verdade o que ela entende é algo parecido com "você é a pessoa mais importante do mundo pra mim, minha única metade da laranja, o chinelo velho pro meu pé torto, e isso vai ser assim hoje e amanhã e sempre, até o fim do universo ou dos especiais de fim de ano do Roberto Carlos, o que durar mais tempo." Se você não é casado, antenas ligadas hein. O pedido de casamento já está um pouco implícito aí. Se você já é casado, relaxa: tá no inferno, abraça o capeta.

Sei lá. Por via das dúvidas, prefiro economizar meus eu te amos. Mas da mesma forma, poderia gastar mais. Sem medo de rejeição. Sem implicações de duração. Sem insinuações de eternidade. Sem sugestões de "até que a morte nos separe". Uma única implicação: eu gosto muito de você e estou muito feliz por te ter na minha vida, não importa quanto tempo isso durar. Tá, mas vai explicar tudo isso pra moça na hora pra ver o bug que dá. E algumas pessoas querem ouvir eu te amo sempre, toda hora, todo santo diazinho, como que para confirmar que, bem, que são amadas, amadinhas, pitchutchucazinhas. Assim, eu te amo vira uma frase automática, cotidiana, domesticada. "Sim, eu te amo. Agora me passa o sal, please?"

O grande dilema, o momento da verdade, o momento do "se correr o bicho o pega, se ficar você já sabe o que acontece" é aquele mesmo, a primeira vez em que você, minha amiga***, toma coragem, respira fundo e tasca o eu te amo à queima roupa do sujeito, inesperadamente, não deixando possibilidade de fuga ou de que ele finja não ter ouvido. E aí o felizardo, ou apavorado, do outro lado tem que dizer algo. Ao menos espera-se que diga. Mas pode simplesmente sorrir de satisfação (ou nervoso) e tascar um beijo pra passar logo o momento #tenso.

E se ele responder algo mas não for eu te amo? Tem que ver isso aí. Possíveis traduções de algumas respostas alternativas ao eu te amo:
  • "eu te adoro" ==> hey, eu gosto muito de você, mas também não vamos exagerar
  • "eu gosto muito de você" ==> você é legal, mas se falar eu te amo mais uma vez, eu sumo, mudo meu celular e te bloqueio no feici
  • "eu também" ==> eu também ME amo
  • "ah é?" ==> é óbvio que você me ama, todos me amam.
  • "mas eu não te amo" ==> mas eu não te amo.
  • "então..." ==> fudeu mesmo.
  • "idem" ==> Corra, Lola, corra!
E, finalmente, a resposta mais temida, a que dá calafrios só de pensar, a que talvez até impeça muita gente de dizer eu te amo, nem que seja uma vezinha só.
  • ... cri... cri... cri...
Nesse caso as interpretações rapidamente se elevam ao quadrado. Mas o mais provável é que você pense que não, ele não me ama, ou então falaria alguma coisa, qualquer coisa. E aí o que acontece? Aí você fica #chororô, você fica #mimimi, você fica #
carinhadequemchupoulimãozinhoazedo E pode ser que justamente aí você esteja quadradamente errada.

Por que? Simples. O amor não é uma frase, não é um contrato, não é uma casa, não é um papel assinado no cartório, não é um relacionamento sério no facebook, não é um anel de diamantes, não é um buquê de rosas vermelhas e, muito, mas muito definitivamente mesmo, não é um casamento lindo e caro pra cacete, como são os casamentos hoje em dia. O amor é apenas um sentimento (sem dúvida, O sentimento), um bem querer, um estar feliz só por estar com alguém e estar feliz pelo outro estar feliz, e triste pelo outro estar triste, e se apoiar mutuamente e talicosa.  Sim, é mais complexo do que essa definição meio tosca, mas deu pra passar o sentido. Agora, você já pensou com carinho no coitado do eu te amo? Abusado, desgastado, exigido por todos em todos lugares a todas horas. Minhas amiguinhas, não podemos pegar tão duro com o sujeito! Tem que dar espaço pro eu te amo respirar e se sentir tranquilo.

E vê bem. Se você não percebe eu te amo nas coisas banais, é porque talvez esse amor não exista. Mas às vezes, um olhar, um afago, um gesto, um beijo, uma risada, uma cutucada, um ãhn, um ai, um tchu, um tcha; uma preocupação singela com algo aparentemente insignificante... Tudo isso pode ser um eu te amo muito mais forte e sincero do que vários eu te amo regurgitados por aí. O eu te amo também se faz ouvir em algumas situações não tão banais, como por exemplo, quando você vai correr com ela nas areias do Imbé, às 6 da manhã de um dia meio frio, com um puta vento, tendo como recompensa a vista de um mar revoltoso e chocolático, ao mesmo tempo em que suas canelas vão sendo limadas pelo nordestão e sua boca se enche de areia. E você faz isso, amigo, só porque, bem, só porque ela insiste que tem que queimar as (míseras) calorias que ganhou na ceia de Natal e ficar linda pro réveillon e arrasar depois na Wari e... Ah se esses sacrifícios não são eu te amos daqueles imeeeeensos, minhas amigas, eu ensaco a viola e me voy pra outros prados. (Mais exemplos ali embaixo no rodapé****).

Se você precisa - e aqui eu quero dizer "precisa" no sentido de "precisa precisa mesmo" - se você precisa mesmo ouvir um eu te amo pra ficar tranqüila, pra se sentir amada, pra se sentir segura, eu suspeito que você deva ter sérias dúvidas sobre seu valor, sobre se merece ser amada, sobre se realmente está em um relacionamento "sério de verdade", e por aí segue o baile. Enfim, sua cabeça deve ser como a minha, que fica cheia de minhoquinhas por qualquer titica de nada - e naturalmente nenhuma dessas minhoquinhas é coisa boa (chama "catastrofismo" esse pensamento minhocal, um velho conhecido meu).

Só que, qual a criatura que nunca fica insegura no amor? E qual o vivente que não fica feliz ao ouvir um eu te amo, daqueles de boca cheia - uma frase tão bonita, mesmo que banalizada? Se existe o sentimento, é ótimo e natural poder dizer e retribuir. Oras bolas, não é a coisa mais difícil do mundo balbuciar três palavrinhas. Do alto do meu habitual dramatismo e exagero eu penso: vamos lá, ninguém vai morrer falando ou ouvindo um eu te aminho*****.

Mas vamos lembrar de uma coisa: não existe nenhuma lei, que eu saiba, que exija a enunciação do eu te amo, que valide o eu te amo como a prova dos 9 (ou dos 69) do amor. As pessoas não tem o dever de nos amar e, mesmo que amem, não tem nenhuma obrigação de dizer eu te amo. Sim, minha amiga, eu sei e concordo contigo: a vida é dura. Lembra que a vida não tem nenhum compromisso com a nossa felicidade. O universo é indiferente à nossa condição objetiva e subjetiva - em bom e chulo português, o universo está cagando e andando pra ti, pra mim e até pro Papa. E deus, bom, esse já picou a mula faz tempo.

Eu desejo, eu realmente desejo, que você se sinta amada sem ter que necessariamente ouvir eu te amo. Se ouvir, que bom. Mas lembra sempre que palavras são palavras, não são AS coisas. Uma rosa é uma rosa é uma rosa. Você pode chamar a rosa por outro nome, mas ela vai continuar sendo aquela mesma coisa. Cuidado com as ilusões. Eu te amo pode ser apenas uma mentira, uma enganação, tão falso quanto uma nota de 3 reais ou um "claro, a gente se fala". Não se iludam, meus amigos. Nenhum eu te amo no mundo vai criar amor por geração espontânea ou tampouco vai resgatar um amor falido, um amor esgotado, um amor natimorto.

No fim-bem-no-finzinho de todas as contas, uma coisa é tão certa quanto os especiais do Rei a cada ano. Você pode ser feliz sem ouvir eu te amo. Você pode ser feliz sem dizer eu te amo. Mas você não pode ser feliz sem amar e ser amado.

Um Feliz 2013 à todos, com todas aquelas coisas de sempre, mas principalmente com muito amor, do tipo e tamanho que for.


<3 S2 <3 S2 <3 S2 <3 S2 <3 S2 <3 S2 <3 S2 <3 S2 <3 S2 <3 S2



* Ao contrário do que 99,9% da população acredita, geralmente são os homens, e não as mulheres, que dizem o primeiro eu te amo em uma relação.
http://super.abril.com.br/blogs/cienciamaluca/homens-dizem-eu-te-amo-primeiro/

** Se Hollywood fosse uma empresa, seu slogan seria algo como "Hollywood, criando ilusões bestas e finais felizes desde sempre". Aliás, eu acho que o cinema é uma das coisas que mais fodeu com nossas cabeças quanto a modelos de amor e sexo, sobre expectativas do que é bacana, de como é um relacionamento, de como o sexo nunca é sujo e todos casais sempre gozam ao mesmo tempo, de como o amor SEMPRE passa por cima de TODAS dificuldades, e tudo mais. Com raríssimas exceções, os filmes de Hollywood são uma grande bosta, e a moderna comédia romântica é um dos gêneros mais estúpidos e infantis e danosos de todos os tempos, com raras exceções como "De Repente É Amor" (na verdade, esse é um filme tão fraco e estúpido e infantil quanto os outros, mas eu gosto dele, então que se foda minha teoria).

*** Obviamente tudo que estou dizendo vale para qualquer sexo, mas por razões estilísticas optei por me dirigir primariamente às amigas. E francamente, se você é homem, por que está lendo sobre essa frescuras de eu te amo?

**** Dois eu te amos dramáticos e um fofinho pra compensar:
       :::::: eu te amo dramático: ser "convencido" a assistir uma porra dum filme iraniano chato pra caralho só porque foi indicado ao Oscar e uns críticos metidos à besta da Zero Hora deram 5 bibs pra ele, enquanto que o que você mais queria era só jogar um FIFAzinho tranquilo com a galera.
       :::::: eu te amo dramático e ligeiramente inverossímil (mas que aconteceu de verdade com um amigo meu): rir muito e se esgoelar cantando "Don't Look Back in Anger" à capela no carro, isso depois que o carro ficou sem som pois o rádio foi roubado por culpa dela, que sempre esquece de trancar o carro e, afinal "mas amor, eu não tenho culpa, a gente só ia ali na Schutz rapidinho trocar um sapato, e além disso, amor, quem que assalta um carro na Padre Chagas no meio do dia com toda aquela gente ali, quem, meu deus, quem????"
       ::::::: eu te amo fófis: sempre abastecer no mesmo posto só para poder comprar um kitkat pra ela porque no Zaffari que vocês vão não tem kitkat (pôrran, Zaffari!!!)

***** Com a possível exceção de eu ouvir eu te amo dos lábios da Léa Seydoux ou da Anne Hathaway.

segunda-feira, outubro 31, 2011

quarta-feira, setembro 28, 2011

Por uma lógica do afeto

Eu e Banda Falcatrua em 1996. Não é instagram, é Polaroid mesmo.
E então, um dia, uma guria pegou na minha mão e aquilo fez toda diferença. Me apaixonei. Simples assim.

Eu tinha 20 anos. Nunca tinha tido uma namorada, só rolos.  Ela era linda, inteligente e parceira, do tipo que todos meus amigos sonhavam (e queriam) namorar. O estranho é que eu a conhecia desde criança, uma grande amiga de minha irmã e nunca tinha sequer considerado ter algo com ela, a via apenas como uma amiga. Sem falar no fato dela ser inatingível. Imune às tentativas de quem quer que fosse.

Pois um dia, em uma praça onde me criei e sempre brincava, havia uma festa da comunidade. Estávamos, eu e vários amigos, incluindo ela, conversando em uma roda. Chegaram dois caras não sei de onde e começaram a conversar com ela, dando em cima descaradamente. Eu estava do lado dela, e por algum motivo, provavelmente porque ela queria se livrar dos caras, pegou em minha mão e disse: deixa eu apresentar meu namorado. E ficamos de mãos dadas por algum tempo, eles "vazaram" e ainda ficamos assim por alguns minutos. Demos risada, nos divertindo com a cara dos manés.

Isso já deve ter acontecido com você. Alguém te fala alguma coisa ou faz alguma coisa, e de repente você percebe, de uma hora pra outra que está apaixonado. Pode ser um gesto, um abraço, uma palavra, um jeito de segurar o garfo ou a forma com que ela se lambuza comendo um picolé. Pode ser um fio de cabelo descendo pela nuca, ou os olhos que parecem tristes e te olham e abrem um sorriso. Assim, de repente assim. Sem razão assim.

E foi assim, através de um enroscar de mãos em uma tarde com sol que me vi apaixonado. Ou melhor, obcecado, que é apenas outro nome para paixão. Não conseguia parar de pensar nela, de fantasiar como seria beijá-la, como seria estarmos sós, dormindo abraçados. Pensava até em como chegaríamos a ficar velhinhos e como seriam nossos netos. A mente voa quando estamos apaixonados, mas pousa sempre no mesmo lugar, hora após hora, voltando ao objeto de nossa afeição como um avião que nunca consegue dar mais do que algumas voltas em torno do aeroporto e retorna.

A obsessão virou uma espécie de desafio e objetivo fixo. Depois de muitas idas e vindas, creio que uns 6 meses, muitas coisas ditas (e não ditas), muito papo ao telefone velho com rodinha, um dia, finalmente me declarei (ao telefone, não tive coragem de falar ao vivo). Sim, eu te amo. Sim, quero ficar contigo.

Não lembro exatamente quanto tempo depois dessa declaração finalmente nos beijamos, em uma chácara, após um show da minha banda Falcatrua (o nome diz tudo) na garagem de quem viria a ser meu melhor amigo. Lembro de estar perto do Golf vermelho de meu pai, detalhe que parece insignificante mas que faz parte dessa cena que tantas vezes revi em silêncio no cinema de minha memória. Lembro que não foi fácil, houve uma espécie de resistência. Não era inclusive minha primeira tentativa, houve uma investida anterior que terminou com um virar de rosto humilhante. Mas perseverei, valia a pena.

E então o primeiro beijo. Dizer que foi um momento mágico é obviamente um clichê, o que paradoxalmente não torna a experiência menos mágica. "Só nos tornamos cúmplices da vida, quando dizemos de todo coração, uma banalidade". Eu te amo é tão banal e tão difícil e tão clichê e tão raro. Ao menos para mim. Economizo eu te amos como quem salva dinheiro numa poupança que nunca é gasta, acumulando sentimentos mas sem revelar o saldo de minha conta, com medo de ser roubado. E no entanto, dessa vez eu saquei toda minha poupança acumulada. Por que guardar tanto dinheiro? Guardar dinheiro não traz felicidade, assim como guardar amor. Ter dinheiro e ter amor trazem (geralmente) felicidade, mas só se usufrui mesmo quando esses ativos são usados.

No fim das contas, meu primeiro namoro chegou ao fim uns 6 meses depois. Motivos? Que adianta pensar nisso agora. Meu amor não acabou de uma hora para outra, pelo contrário, o carreguei como um peso por um bom tempo. Carreguei todo ele, pois senti como se ela tivesse me devolvido todo o amor que havia nela por mim. Mas no fim, o fim é apenas o início de um novo começo, como diz uma música. Demorou, mas passou. Ainda somos amigos, embora nos falemos pouco. Ainda gosto dela, de um outro jeito, como gosto de meus amigos.

Por que escrevi tudo isso? Esse post era para ser diferente. O título eu já tinha há muito tempo, mas o recheio era outro, muito mais científico, impessoal, cerebral. Quase um manifesto e uma súplica. Por algum motivo, hoje, no evento Fronteiras do Pensamento, em meio a uma palestra fantástica da Sylvia Earle, ganhadora do prestigiado TED Prize, desencantei a rechear o título no bloco de anotações do evento. E o que me veio foi essa história. Porque o afeto não tem lógica, ele vem e vai como que por magia. Quando vem, não podemos fazer nada, ele já é. Quando foi, já foi.

Podemos criar nossas histórias, podemos marcar um momento em que nos apaixonamos, mas no fundo são histórias que criamos para dar coerência à nossas vidas, para preencher o vácuo de explicações das coisas talvez mais importantes. Assim como criamos Deus para preencher o vácuo de nossa existência, inventamos o amor para dar continuidade à nossa existência. Tenho certeza de que não sou a única pessoa a desejar uma lógica cristalina do afeto. E no entanto, sei que essa lógica, se existe, não é cristalina e, além disso, é impermeável à explicações. Resta ficarmos maravilhados quando ele acontece. "Never lose the sense of wonder", nas palavras de Sylvia.

E se você olhar bem de perto, como diz a música, o amor, na verdade, está à nossa volta.
Basta abrir a mão e gastar o que não foi feito para ser guardado.

terça-feira, setembro 13, 2011

Sobre a morte


Tio Zé. Amo eternamente.
Alfie. Assisti à esse filme faz uns 6 anos. Muitas vezes pensei nele após ter visto, mas há muito tempo não pensava nele, até chegar essa noite. Pensei por 2 motivos: 1) me lembra meu primo, Fabio, que infelizmente já faleceu; 2) por causa da frase final do filme. É algo do tipo: "Tive várias mulheres, me diverti muito, tive tudo. Mas não tenho paz". (original: I have no peace of mind).

Não, não tive muitas mulheres. Não, não sou bonito e rico como o Jude Law. Sim, me diverti muito até hoje. Mas I have no peace of mind. Talvez seja até bom ser inquieto e inconformado. Mas às vezes cansa. Às vezes acho que preferia uma vida mais calma. Só que quando tive a vida calma, me aborreci. Eu encho o saco muito fácil, me entedio muito fácil, canso de relacionamentos muito fácil, canso de tudo muito fácil.

Teenage angst? Talvez. Tédio existencial? Às vezes. Mas acho que todos passam por momentos assim. Se questionam sobre os rumos da vida, sobre seus sonhos, sobre seus amores, sobre o que é importante. Eu penso muito na morte, por exemplo. Não porque eu queira morrer, muito pelo contrário. Tenho verdadeiro horror à morte, se eu pudesse escolher, não morreria. Nem as pessoas que gosto morreriam. Mas elas morrem. In the end, todos morrem.

Quase todo dia, me pego pensando e olhando as pessoas e percebendo claramente que um dias essas pessoas irão morrer, e eu junto com elas. Será que serei antes? Antes de alguns, depois de outros, claro. A vida é assim mesmo, triste e alegre. Se choramos por alguém , é porque choramos por nós mesmos. Se perdemos alguém , perdemos sempre uma parte de nós. Se nos vamos, o mundo perde parte de nós.

A verdade última é que nascemos sozinhos e morremos sozinhos. Com pessoas que nos amam, mas vamos sozinhos. Muitas já se foram de minha vida, só para relembrar, meu primo, meus avós, meu tio Zé, esse ano ainda. Penso e temo por quem será o próximo. Porque acho que será de repente, sem aviso. Se for com aviso, não será menos triste ou menos difícil. Mas vai acontecer. Eu vou, eles vão, todos irão. Não há o que fazer.

Por isso não acredito em Deus nem em vida após a morte. A vida é aqui e agora. Conforta? Acho que menos do que os que acreditam. Mas creio que torna a vida mais valiosa, porque não se repete. Millôr já disse: viver é desenhar sem borracha. Complemento: morrer é não poder rabiscar mais.

Faz alguns dias, reli alguns trechos de um livro, de Luc Ferry, filósofo francês que inclusive conhecerei em breve pois minha empresa está trazendo ele à Florianópolis para o evento Fronteiras do Pensamento, que já ocorre em Porto Alegre e São Paulo. Estou muito animado e feliz pela oportunidade que terei de conhecê-lo pois ele escreveu um livro maravilhoso, chamado Aprendendo a Viver. A tese principal é de que a filosofia e a religião, no fundo, são respostas à morte, ao temor da morte e tudo mais.

E na última página, ele conta a história de uma entrevista que uma pessoa famosa deu. Essa pessoa também não acreditava em Deus ou vida após a morte. E participou de uma entrevista em que são feitas perguntas padrão a todos entrevistados, tipo ping-pong. Uma dessas perguntas era: se você pudesse ir para o céu e encontrar Deus, o que diria? Ele respondeu: que bom poder encontrar as pessoas que amo. Ou seja, mesmo um ateu declarado, o que ele mais queria era rever quem ele amou. Penso, não há como ser diferente. Creio que seja um desejo universal. Poderia ser minha resposta também.

Mas, como já disse, um dia o fim chega. E nunca estamos preparados. E temos que seguir em frente, até que aconteça com a gente ou com quem amamos. E até lá, tentarmos fazer o melhor, aproveitar o máximo, tentar deixar um legado, um amor, algo que faça o mundo tentar lembrar que um dia estivemos aqui. Que um dia, participamos de tudo isso. Que um dia, brilhamos, mesmo que depois tenhamos apagado.

O difícil é percebermos como somos sortudos de poder estar aqui e ter conhecido e amado a quem amamos. Ah como é difícil. Às vezes consigo. Às vezes só sinto tristeza. Às vezes alegria por todos que amo e amei. Escrever é um a forma de tentar permanecer. Gosto de pensar que um dia meus filhos, netos, bisnetos e n-netos poderão ler o que escrevi, olhar meu perfil no Facebook e também gostar de mim, talvez até amar, pois de certa forma eles estarão aqui porque meus antepassados estiveram e eu estive. É uma espécie de conforto. É tudo que tenho.

Agora vou parar de escrever pois não sei mais o que escrever.
Obrigado aos que me lêem.
É um prazer imenso saber que não estou sozinho.
Até mais!

quarta-feira, abril 20, 2011

Sobre a importância de criar o que for


Anotações aleatórias no meu "notebook"
Escritores são arquitetos. De imagens e sentimentos. Nem sempre para os outros mas sempre para si mesmos. Li uma vez e concordo: nunca escrevemos ou choramos pelos outros. É sempre por nós mesmos que choramos. Se atingimos um outro é porque tocamos em algo profundo, uma corda que ressona como um Lá maior, que não importa o instrumento ou o lugar, sempre vai vibrar na freqüência exata de 440 Hz (ou múltiplos disso). Mas o timbre sempre é único.

E sendo tão particulares como o timbre de uma voz, única entre 7 bilhões de pessoas, entre todas as pessoas que existem, existiram ou existirão, às vezes conseguimos tocar o âmago de toda humanidade, tornando assim uma única voz na voz de todas as pessoas. Do particular para o universal. Só conseguimos isso sendo o que ninguém é, fora nós mesmos: sendo nós mesmos. Fernando Pessoa já disse: o poeta é um fingidor. Finge a dor que nem mesmo sente, mas que já sentiu ou imaginou sentir. No fim, somos o que fingimos para nós mesmos.

Às vezes penso se o que escrevo é bom. Algumas pessoas já me disseram que é, e sou grato a elas. Mas há algo que importa mais do que escrever bem. E isso é simplesmente escrever. Ou pintar. Ou criar, qualquer coisa, de qualquer maneira. Por que? Porque isso é algo que só você pode fazer, criar o que é seu. Não importa a qualidade, importa que é seu e tudo que você criar só podia ter sido criado por você.

Há uma frase que expressa bem o que quero dizer: há um chapéu onde antes não havia nada. E há porque você fez aquele chapéu. Por isso sinto um prazer imenso sempre que acabo de escrever algo, olho para o que escrevi como se fosse um filho. Tudo o que você cria, sozinho ou com alguém, é filho seu, com seu DNA, mutante ou não.

Olhe para ele com carinho. E continue tendo filhos, eles sobreviverão a você, e serão sua marca no mundo, por menor que seja essa marca. Não pisar tão de leve que ninguém perceba nem tão forte que destrua. Foi algo assim que meu colega Mateus Grasseli falou na noite da formatura de 2º grau do colégio Leonardo Da Vinci,  no final de 1993.   Momentos que não voltam mais, e que, no entanto, nunca nos deixam.

sexta-feira, abril 01, 2011

A Hipótese de Bruna - ou Da Função Social da Prostituição

Bem mais bonita que a real. Mas não está disponível.
"Eu não pago para fazer sexo com uma mulher. Eu pago para ela ir embora depois." Jack Nicholson


Bruna Surfistinha é um bom filme mas não vou aqui escrever uma crítica. O que me deixou pensando foi uma coisa que Bruna diz no filme: "já salvei muitos casamentos."
Será? A lógica é algo do tipo: em vez de trair a parceira com outra pessoa "normal" ou acabar um relacionamento por falta de "variação", tédio ou o que seja, o homem busca a profissional, que satisfaz o desejo sem complicações. O homem não precisa se esforçar nem se preocupar com uma ligação emocional e a mulher não corre o risco de perder seu homem para outra mulher. Bom, Raquel pode ter salvo vários casamentos, mas pelo menos um ela não salvou: o casamento do ex-cliente que se separou de sua mulher para ficar com Bruna.

Essa lógica me fez lembrar de uma tarde que passei com amigos num café elaborando um audacioso business plan para um negócio de alto potencial. O nome da corporação seria SPF, Serviço de Proteção à Família. Essa corporação, ou Clube de Relacionamento como preferimos chamar, ofereceria um nível de serviço nunca visto no setor do entretenimento masculino adulto. Nosso SPF seria o iPhone desse mercado: algo que estaria anos-luz a frente da concorrência. Os planos não prosperaram além daquela tarde, mas certamente conseguimos espantar vários clientes da Starbucks que estavam ao nosso lado. Tudo começou com uma brincadeira, mas ao final da conversa estávamos elaborando a mecânica do Programa de Fidelidade. Ou talvez fosse o primeiro Programa de Infidelidade do mundo.

Mas afinal, a afirmação de Bruna faz sentido? Para resolver a questão, podemos imaginar um experimento para verificar cientificamente se prostitutas atuam como um SPF, salvando relacionamentos do desastre. Bastaria pegar 2 grupos de homens e acompanhar suas vidas durante alguns anos. É um estudo muito comum na área da saúde e o nome técnico é estudo longitudinal. Um grupo faria uso constante dos SPF, e os outros não fariam (sim, existem e são a maioria). Se a hipótese do SPF estiver certa, o grupo de usuários dos serviços teria uma taxa menor de divórcios e/ou menos conflitos com parceiras. Por motivos óbvios, dificilmente este estudo existirá (e se existir, gostaria de investigar a fundo o método de coleta de dados).

Como não temos dados, cada um fica com sua teoria por hora. Mas digamos que em alguns casos, o uso de SPF pudesse teoricamente ajudar a "salvar" ou manter relacionamentos. Ora, se o preço de manter um relacionamento é ter de fazer sexo com prostitutas, vale a pena manter esse relacionamento? Suponho que a maioria das mulheres responderia não, mas o mundo não é feito de teorias e sim de uma confusão incrível de desejos, conflitos, dilemas, paradoxos e por aí vai. A velha história de que na prática, a teoria é outra. De forma geral, creio que o furo é bem mais em cima. No cérebro, o verdadeiro órgão sexual.

O que não precisa de estudo para se comprovar* é o fato de que as profissionais do sexo de hoje enfrentam uma concorrência nunca vista na história da humanidade. De onde vem essa concorrência? Mulheres que fazem sexo sem cobrar. Ou seja, a maioria. A revolução dos costumes facilitou muito a ocorrência do sexo antes do casamento, sexo casual, em série, em paralelo, em cima, embaixo, de lado, etc.... Aliás, a expressão "sexo casual" foi criada há apenas algumas décadas atrás.
Ainda assim, essa concorrência dificilmente levará à falência dos SPFs. Enquanto os homens forem menos seletivos e desejarem mais sexo do que as mulheres, este mercado existirá. Ou seja, para sempre.

*Se você não acredita, leia o primeiro capítulo do livro Super Freakonomics, que traz justamente um estudo interessantíssimo sobre a prosituição.

quinta-feira, março 03, 2011

In Jobs We Trust

Amém.


Em 2001, trabalhava na RBS na área de Análise de Mercado e fazíamos muitos trabalhos sobre telecom. Lia todo tipo de relatórios que falavam sobre o futuro, e o resumo era: dados, dados, dados.. a receita com voz ia cair, o consumo de dados e a receita com dados ia subir e etc. Achava aquilo uma grande baboseira.. que tipo de dados iam trafegar? Meu Nokia mal mandava mensagens, e o máximo era o jogo da cobra. Então, em 2005 comprei um Samsung, que acessava web via GPRS ou WAP. Não usava muito, demorava pacas e a tela era muito pequena. Uma vez, no entanto, fui salvo de uma enrascada pelo Google, com esse celular (essa história eu preciso escrever outra hora, o taxista Severino). Lembro de algumas poucas vezes em que acessei meu email pessoal. E só. Então continuei achando toda aquela história de dados uma grande besteira.


Enter the iPhone.


Afinal, como eram os telefones antes do iPhone? O que eles faziam? Como acessavam a internet? Não lembro. Talvez fizessem isso bem, mas ninguém dava bola. E isso mudou de uma hora para a outra. Devido ao iPhone, a rede 3G da AT&T sofreu constantes congestionamentos e até hoje as pessoas reclamam de lentidão. Era chegado, finalmente, o momento dos dados. O momento de acessar a web onde quer que eu estivesse. Mas esse momento não veio através de ações de operadoras, como se previa lá em 2001. Veio através de um competidor pequeno em comparação às grandes teles e que até então não tinha nada a ver com telecom (favor desconsiderar a fracassada experiência do Motorola RKR com iTunes).


Meu mundo estava completo. Mas peraí. Na verdade eu resisti a comprar um iPhone. Minha entrada no campo de distorção de realidade de Mr Jobs se deu com o iPod 3G (ou 4G?) branco, tela monocromática, levemente azulada, que meus pais trouxeram do Paraguai em 2005 junto com minha primeira câmera digital. Ah saudoso iPod!!! Quando comprei meu iPod preto com tela colorida 5G, "vendi" o branco a um grande amigo, que anos depois me "devolveria" a peça dizendo que não funcionava. Mas eu sempre fui de fuçar e ressuscitei o danado.


Aliás comprei meu iPod preto em julho de 2007, em NY, justamente quando foi liberado o primeiro iPhone 1G, nem existia app store na época. Lembro de no aeroporto encontrar um cara que havia comprado vários iPhones e vi ele mexendo no app de fotos. Muito bacana, pensei, mas muito grande. Gosto de celulares pequenos, quanto menor, melhor. Tanto que troquei meu velho Samsung por um menor Samsung, pelo qual também me apaixonei à primeira vista. Um amigo chamou esse meu aparelho de "celular de p..." mas ainda assim o mantenho em meu santuário de gadgets queridos. O chamo de celular canivete, devido a sua forma de abrir.


Então, em 2008 resolvi sair do mundo da Microsoft e comprei meu iMac 20". Paixão. Casei achando que ia ser bom, mas a paixão só cresceu. Às vezes, antes de dormir, paro e olho para trás e fico me deleitando com a beleza que é um iMac. Não vou traí-lo jamais. A não ser por um modelo mais novo, como hão de ser a maioria das traições.


Voltando ao iPhone. Ele continuava me intrigando. Mas sempre que eu o via, pensava: muito GRANDE. Me lembrava o celular "chapinha", o Motorola RZR, sucesso absoluto por volta de 2006, mas que nunca me apeteceu justamente por ser muito grande.


Pois bem... como sói acontecer (sempre quis usar essa palavra, sói) uma vez pedi para brincar com o iPhone de um amigo. Lembro de ter jogado Aquaplay (quem tem mais de 30 sabe do que falo) e um jogo de futebol. E foi ali, naquele instante, no Parque Hopi Hari, no carnaval de 2009, que mudei minha cabeça. Sim, eu gostei do iPhone. Sim, vou comprar um iPhone. Sim, eu PRECISO de um iPhone. Agora.


Comprei o dito em abril de 2009, em viagem à California. Coincidentemente, o comprei em San Francisco, pertinho da sede da Apple em Cupertino, a Meca Sagrada dos Fanboys (como são conhecidos os fanáticos por Apple). E digo mais, a Pedra de Cabala - ou qualquer que seja o nome daquele cubo preto gigante ao redor do qual muçulmanos ficam girando sem parar - a Pedra de Cabala ocidental fica em NY, na 5a avenida e é transparente, não preta.


iPhone 3G e eu. Paixão novamente. Meu deus, como me apaixono fácil! Taí mais um negócio que nunca vou trair. A não ser, claro, por um modelo mais novo. E logo depois de eu voltar de viagem, nosso amigo Steve vai lá e lança o 3GS. Ok, ainda é bem parecido com o 3G, posso aguentar. E em 2010, ele me vem com o iPhone 4. Hmmm, esse eu fiquei querendo muito. Não comprei pois não viajei mais ao exterior e me recuso a pagar o preço ridículo aqui no Brasil.


E em 2010 também lançaram um produto que, quando vi, não me disse muito. O iPad era apenas um iPodizão Touch. É, esse não vou precisar comprar não. Outras 15 milhões de pessoas pensaram diferente.


Pois bem... como sói acontecer (ó, segunda aparição!) uma vez um amigo me mostrou o seu (iPad) e decidi que precisava de um. TERIA que comprar um. Mas também não ia pagar o preço daqui. Então até agora estou sem, invejando meus amigos da RBS que passam serelepes com seus iPads e os exibem em cima das mesas. Inveja branca, vejam bem meus amigos, não estou criticando. Eu faria o mesmo.


E ontem o mais-magro-que-eu Mr Jobs me mostra o iPad 2. Ah, esse vai ser meu. Logo, logo, em junho botarei as mão em um, possivelmente em Oslo. Em termos de produto, o que mais impressiona é a mudança física, a diminuição da espessura principalmente, menor que 1 cm (8,8 mm para ser exato), mais fino que o iPhone 4 inclusive. E o app GarageBand, uma obra de arte para quem gosta de música. Hey Android, cadê o seu GarageBand? Aliás, anyone? A Apple vence de novo. Sim, admito, sou fanboy declarado e brand evangelist. In Jobs We Trust.


Agora, escrevi tudo isso motivado por algo que realmente chamou minha atenção mais do que tudo. Algo tão singelo quanto uma capa. Algo tão complexo quanto uma capa. Ou tão esperto, a julgar pelo pedante nome de Smart Cover. Bem, algumas pessoas e empresas podem ser pedantes. Como diz uma frase que inventei agora, não há nada de errado em cantar de galo. Se você for um galo.




Esta Smart Cover é uma obra primorosa do design moderno. Basta ver o vídeo acima para entender. Ela foi desenvolvida em conjunto com o iPad 2, e não poderia ser diferente, pois só funciona graças a imãs que ficam escondidos dentro da carcaça do aparelho. Porque fazer essa capa? Jony Ive, mestre dos magos do design, talvez o designer industrial mais famoso do mundo, explica que, entre outras coisas, a capa anterior escondia o belo corpo de aluminio do iPad. Hey, se você pagou caro por isso, não vai querer esconder, certo? Então por uma razão puramente estética resolveram fazer diferente. Mas não é só isso. A capa funciona como suporte, em duas posições. E se encaixa automaticamente. E vem em várias cores. E o tecido interno também ajuda a limpar a tela. E quando você abre a capa, o iPad liga instantaneamente. E quando você fecha, ele desliga. Realmente parece uma capa esperta, quiçá (outra palavra que queria usar) mágica.


E eu fico só imaginando o tamanho do esforço e do carinho (sim, carinho) só para pensar nesse detalhe. Que agora já não parece mais um detalhe, é algo natural, que certamente só não me ocorreu pois estava muito ocupado pensando em outras coisas. Se eu tivesse que pinçar algo para exemplificar o que é a Apple, eu escolheria esta capa. Tudo está ali. A simplicidade, a elegância, a funcionalidade, a preocupação estética, a integração primorosa. Um toque de gênio.


É por isso que fiquei lendo vários artigos sobre o iPad 2 e porque vi a apresentação completa do evento de lançamento agora de madrugada (72 min). É como se eu estivesse vendo o lançamento de um filme. Até a qualidade da imagem é muito superior a dos filmes que geralmente se baixa por aí (nunca fiz isso). Esses keynotes são nada menos do que teatrais, cinematográficos, possivelmente ensaiados até a euxastão como o Oscar, mas que, ao contrário dessa cerimônia decadente, não parecem forçados, tem algo de substancial a dizer e repercutem por toda imprensa como poucas empresas conseguem em seus eventos. Qual foi a última vez que você leu uma notícia sobre um evento de lançamento de um produto da Microsoft?


E esses eventos são naturalmente aguardados com grande ansiedade e expectativa por uma grande comunidade. As piadas e estocadas nos "concorrentes" são um bônus que reforça o ardor dos fanboys e a ira dos hateboys. A Apple não é perfeita, claro, e tem várias coisas que me irritam em seus produtos. Ainda assim, o que eu mais admiro é o apreço pelo detalhe, mesmo que pareça insignificante, a busca incansável da união entre estética, funcionalidade e simplicidade. Como Mr. Jobs fala ao final do evento, a Apple está na intersecção da tecnologia e da arte. E para alguns (muitos), perto de uma religião. Glória a Jobs, senhor.



sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Slightly Off-Kilter

Bedazzling.


I was looking at a picture (not actually the one shown here, as I couldn't show the real picture for privacy issues). It portrays a young woman wearing a very beautiful face. For some reason, I couldn't get my eyes off her. And I couldn't get my head out of it as well. And I kept coming back for more. 

I began thinking why it is so. It's not as if I'm in love or anything like that. It's just that this girl has something that I couldn't quite put my finger on. And then I realized what it was.

Her eyes. 

Her glance. 

Her gaze. 

It has a kind of hypnotic quality, so that one cannot help but stare at this truly bedazzling glare. A Glare that exerts a kind of bedazzlement upon me, with a luminance strong enough to light a light in the mind's eye.

I came to my senses as to the reason of this entrapment that I found myself into. And I assigned it to a very particular quality of hers, which is that her eyes are slightly off-kilter. Normally one would think that this is not desirable, and surely most of the time that's the way it is. But this girl, she's different. Slightly off-center, but just rightly so, subtle yet noticeable to an attentive mind. The luminous power it exudes puts me on a state of trance hard to get out of. And yet I crave for this, for it bewitches me, it inspires me, it entangles me in knots I'm not really sure I'd be willing to get rid of. 

Hope springs eternal.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Lembranças tão imensas de nossa dor (parte final)

San Diego... A imagem não tem nada a ver com o post, só acho ela bonita. A história da foto fica pra outro post

Continuando então a saga do post anterior (cortei alguns episódios menores, então este é post final da série. Se bem que tem alguns episódios que vale post por si só). Buenas, como todos sabem, um dos momentos cruciais na vida é a escolha da faculdade. Pois bem...

- Escolhi minha faculdade com base na lógica inquestionável de uma colega, pela qual eu estava apaixonado, e que faria vestibular para essa mesma faculdade: "Ah, tu sabe desenhar bem, Heleno, então tem que fazer Arquitetura". Por que não, eu pensei? Afinal, eu ia poder ficar perto dela e arquitetura é a maior barbada, ficar fazendo uns desenhozinhos por aí...
  • Impacto: repeti 6 vezes (não, eu não errei a digitação) a cadeira mais importante da Faculdade de Arquitetura, a cadeira de Projeto 1. Finalmente, reconheci que meu pai estava certo ao me alertar que, talvez, e só talvez, Arquitetura não fosse para mim.
- Ok, então Arquitetura não dá. Resolvi pedir transferência de curso. Deixa eu ver agora, qual que escolho.. hmmm.. ok, quando eu era pequeno eu queria ser médico. Então vamos de Medicina! Mas pensando bem, Direito também é tão bacana, de repente ser um juiz e tal. E Ciências da Computação então? Computador é o futuro, meu pai já dizia. Ah... mas e Publicidade e Propaganda? Criar aqueles comerciais vencedores de Cannes que passam no Multishow. Se bem que Administração também pode ser uma hein, cursinho mais genérico, um 2º grau estendido. Hmmm... difícil escolher...
  • Impacto: como não conseguia decidir, solicitei transferência para essas 5 faculdades. Afinal, são tão similares...
- Bom, dificilmente vou ser aceito nas 5, transferência não é tão mole, são poucas vagas internas e depende basicamente do desempenho no vestibular. Mas o lado bom é que o processo de seleção vai decidir por mim, vou fazer onde me aceitarem. O problema é: eu era um nerd que sempre ia muito bem na escola (não tanto na faculdade de Arquitetura), e no vestibular passei em segundo lugar.
  • Impacto: recebi uma ligação da reitoria informando que fui aceito em 4 cursos dos 5 para os quais pedi transferência. Só Publicidade não me aceitou. Me vinguei fazendo Administração e hoje trabalho na área de publicidade.
- Após me formar em Administração, entrei no mestrado em Marketing. Durante a fase crítica de fazer a pesquisa para a dissertação e escrever papers, eu passava as tardes em casa realizando tarefas absolutamente inadiáveis (ex.: arrumar livros em ordem de assunto e dentro de assunto em lidos/não lidos e dentro destes em ordem alfabética por título, arrumar roupas por estilo, cor e frequência de uso, ler 4 jornais diários para me manter informado)
  • Impacto: dependi da caridade de professores para ser aprovado com base em papers geniais, escritos na madrugada da data de entrega. A dissertação só não ganhou nota máxima possivelmente porque gastei mais tempo escrevendo e reescrevendo os agradecimentos do que a própria dissertação em si. (quem tiver coragem pode ver a dissertação aqui)
- Esqueci a letra de uma música no meio de uma apresentação de improviso em um bar, com meu amigo Guga Fabbro na guitarra (e ele é totalmente fera, até professor é). Era uma música brasileira famosa, acho que do Cazuza. Da qual todos sabem a letra. Até eu. Até aquele dia.

  • Impacto: não cantei mais de improviso. Pelo menos não em português. E nunca mais me apresentei em público com o Guga.
- Aprendi a tocar violão e gravei uma música para uma menina que conheci no Mestrado, dedicando a música à ela e gravando no meu iPod. [Dedicatória com voz de locutor de rádio bagaceira] "Rosssssana, essa é pra ti... bãt óu de promissessss uí meiq, from de crêideuuu tchu de greiv, uên óuu ai uãn is iuuuuuuuuuuu...". Uma choradeira só. Não funcionou, mas tudo bem. A única questão é que uns 2 anos depois conheci outra menina, e para tentar impressionar a infeliz vítima, fui mostrar uma música bacana do U2 que gravei há um tempo atrás... (essa aqui, só excluí a constrangedora dedicatória)  
  • Impacto: mais uma noite solitária. Uma delas ainda é minha amiga.
- Fui enganado no orkut por uma menina. Ela me adicionou e veio falar comigo. Não a conhecia, mas a julgar pela foto do perfil devia ter antepassados dinamarqueses. Ela era do interior de SP e eu morava em Porto Alegre. O papo evoluiu e depois de alguns telefonemas, conversas cada vez mais sérias e longas - chegando ao ponto de combinar um encontro - a pessoa avisa que... hummm.. bem... então... aquela ali na verdade não sou eu... quer dizer, sou eu mas a foto não é de mim, entende?... silêncio... incredulidade... mas então qual é tua foto??? peraí, vou te mandar... tensão... internet lenta... foto pesada.... chega a foto... ... silêncio... incredulidade... incredulidade... incredulidade...... digamos que até poderia ser dinamarquesa, mas certamente não tinha acesso ao lendário sistema de saúde que permite plásticas gratuitas.
  • Impacto: mudei para o facebook, que pelo menos é mais bonito que o orkut e adotei critérios mais avançados na aceitação de "amigos". E também não faço mais longas ligações interurbanas do celular para quem eu não conheço pessoalmente.
- Certa feita, em momento crítico, uma namorada comparou certas partes de minha anatomia a de um ex-namorado, de uma forma que não me pareceu exatamente um elogio.
  • Impacto: perdi a capacidade de manter a concentração, e depois perdi boa parte de meu salário em inúmeras horas de 40 minutos com psicoterapeutas das mais diversas linhagens e estirpes.
Eu poderia continuar. Todo dia continuo aprendendo coisas, e geralmente através da dor. Talvez a dor seja a melhor professora. Ainda assim, não seria de todo ruim se viesse com uma anestesia de vez em quando. O único ponto é que com a anestesia eu não aprendo nada, e teria que fechar o blog pois não teria mais histórias para contar.

Para mim, quando as coisas dão errado (e geralmente dão), isso pelo menos vira uma história. E, no fim das contas, ficam as lembranças boas. Como as que tive ontem pensando no que aconteceu nos 2 shows do Paul McCartney que vi há pouco. Em parte uma tragédia financeira de alto calibre. Mas no futuro apenas um momento inesquecível. Vale um post... outra hora.

quarta-feira, dezembro 01, 2010

Lembranças tão imensas de nossa dor (parte 1)

Sim, eu era loiro, fofo (meu apelido até os 2 anos) e bonito. Depois, foi só dor e ladeira abaixo. Ver abaixo.
Momentos de dor. Que geram um impacto, e fazem você se enxergar de forma diferente e aprender, evoluir, tentar de novo. Todos temos momentos desses para lembrar.

Resolvi então fazer um breve balanço de minha vida (ok, nem tão breve, levei mais de 5 horas no auge da madrugada para escrever e reescrever) e compartilhar alguns dos meus momentos de dor e também os impactos que estas experiências me causaram. Ficou tão grande que vou dividir em 3 partes, publicando toda quarta. Assim, começo em ordem mazomenos cronológica:

- Tive a cabeça e os ombros encharcados de vômito pelo Jairo na fila de entrada no primeiro dia de aula da primeira série do primeiro grau na Escola Santa Cruz, em Nova Milano (RS). Fui socorrido pela minha prima mais velha, Yara, que foi chamada às pressas para me dar um banho. O conteúdo não era identificável, afora salame colonial.
  • Impacto: não como salame e fico longe de pessoas que acabaram de comer salame. Também prefiro não ficar na frente de pessoas mais altas que eu numa fila.
- Tirei a sobrancelha direita no terceiro ano do primeiro grau para "ver como ficava".

  • Impacto: aprendi a usar lápis de maquiagem, salvo novamente pela Yara e passei um bom tempo sem lavar o  rosto na escola.

- Era obrigado a ir à missa todo domingo (pela manhã!!!!!!) durante 8 anos.
  • Impacto: perdi a fé em Deus. E também não vou precisar casar, pelo menos não na igreja.

- Banhei meus cabelos com água oxigenada e fui ao sol, por não acreditar que isso deixaria meus cabelos loiros. Balela, eu pensava.
  • Impacto: passei a depositar minha fé na ciência.

- No primeiro dia de aula, no primeiro dia de funcionamento do Leonardo da Vinci, colégio mais exclusivo de Caxias do Sul, a professora pediu que nos apresentássemos. Declarei que meu sonho era revolucionar o mundo, como Albert Einstein. Se você lembra do seu segundo grau, certamente sabe que adolescentes espinhentos de 14 anos são espécie universalmente conhecida pela crueldade. E digamos que eu exagerei um pouquinho em meu sonho.
  • Impacto: ganhei o apelido de Einstein e fui um dos alunos mais populares do colégio. Se você nunca foi um loser popular, dificilmente vai entender que ser popular nem sempre é bom.
- Entrei no ônibus errado e fui parar Flores da Cunha. Como eu disse, estudava em Caxias do Sul e o destino era Nova Milano, em Farroupilha, a uns 30 km de Flores da Cunha. 
  • Impacto: passei a sempre olhar com muito zelo a placa que informa o destino do ônibus e desenvolvi uma desconfiança imediata de que estou no ônibus errado assim que ele pega uma estrada diferente da que sempre toma.
- Entrei no ônibus certo, dormi profundamente e desci no lugar errado. E São Sebastião do Caí definitivamente não é nada perto de Nova Milano.
  • Impacto: insônia em ônibus desde então. Insônia felizmente não transferida a aviões com escala, e espero que continue assim.
- Passei uma tarde nublada jogando taco-bola na beira da praia em Imbé em um feriadão. Sem protetor.
  • Impacto: aprendi que em dia nublado o sol também queima e tive que andar de chinelo por 3 semanas devido a queimaduras de 2o grau nos pés. Num início de inverno. Inverno de Caxias. No segundo grau. Onde eu já era bem popular.
- Eu era nerd, CDF, magro, sardento e orelhudo.
  • Impacto: baixa auto-estima e vida social inexistente (varar noites jogando Super Nintendo não é válido como vida social). Hoje estou menos orelhudo, pois fiz plástica em 1998. Isso porque meus pais se compadeceram de mim quando descobriram que eu estava usando Super Bonder nas orelhas. Funciona bem, se você não se importa de andar com uma Super Bonder no bolso caso a orelha se descole. E ela sempre descolava, nos piores momentos.
- Tinha baixa auto-estima
  • Impacto: conhecia mulheres vendo revista. Minha melhor tentativa foi escrever uma carta de amor em alemão, para a menina não ter ideia do que estava escrito, de tanta vergonha que eu tinha. Óbvio que ela foi falar com meu vô Ervino. Meu vô traduziu, até porque foi ele também que converteu minha carta do português para o alemão. Minha amiga ouviu atentamente. Veio conversar comigo. Me confessou que gostava do meu melhor amigo. Nunca mais escrevi cartas em alemão. E para tentar entender as mulheres, eu lia a Nova, que minha tia Nena assinava. Não creio que eu tenha entendido algo sobre as mulheres.
- Não tinha ideia do que as mulheres queriam.
  • Impacto: nenhum. Continuo não sabendo. Freud não sabia. Ninguém sabe. Nem vai saber


segunda-feira, novembro 01, 2010

Vou me mudar pra Dinamarca

Ok, não são da Dinamarca. Mas e daí?

Em momentos de tensão é possível descobrir coisas que em tempos bons não descobriríamos. Nesta eleição confesso que fiquei chocado com o baixo nível da campanha de Serra. Já adianto que respeito quem votou em Serra, a maioria é gente do bem. Não acho que sejam "uns dementes, sem educação, que não pensam, que querem o atraso", assim como muitos pensam dos que votaram em Dilma.

Eu inclusive votei na Marina Silva no primeiro turno, pois acho que precisávamos de uma renovação e a Dilma nunca me pareceu a candidata ideal. Agora, neste segundo turno não era possível ver Serra e o que há de mais retrógrado na política brasileira ganhar. Dilma e o PT, com todos defeitos que têm, ainda estão anos-luz a frente do PSDB.

Pois bem, estava no twitter quando vejo uma tuitada de Marcello Serpa, http://twitter.com/marcello_serpa. Se você não sabe, o cara é um dos maiores e mais premiados publicitários do Brasil, dono da AlmapBBDO, agência brasileira mais premiada em Cannes. Tive a oportunidade inclusive de participar de um curso, Grandes Publicitários, e ver uma entrevista que Celso Loducca, outro grande publicitário, fez com ele. Muito bom o curso, que teve também Nizan Guanaes, Washington Olivetto, Alexandre Gama e Roberto Justus - ou seja, a nata da publicidade brasileira, uma das melhores do mundo.

O Marcello Serpa escreveu o seguinte:

"Votei contra intolerância, autoritarismo, ideologia Jeca, peleguismo, aparelhamento.... Preferia ter votado a favor de alguma coisa :)
PSDB R.I.P. 47% querem votar num partido, num princípio, numa proposta e não só contra o PT.
Voltei, votei e agora me preparo para mais 4 anos na contramão."

Eu, http://twitter.com/rockstar1000, resolvi ironizar:

Pô que legal, votou na Dilma! RT @Marcello_Serpa: Votei contra intolerância, autoritarismo, ideologia Jeca, peleguismo, aparelhamento....

E ele me deu uma réplica:

@rockstar1000 Comemore, mas não me encha o saco.

Nunca imaginei que ele fosse me responder, não costumo falar com pessoas famosas no twitter, então me surpreendi ao ver seu comentário. Como me pareceu rude, fiz a tréplica:

Idem para você meu caro RT @Marcello_Serpa: @rockstar1000 Comemore, mas não me encha o saco.

Não acho que ele tenha sido preconceituoso, coisa que vi em muitos comentários que li, afinal não falou contra pobres, nordestinos, etc. Até concordo com ele que boa parte da população quer votar a favor de algo e não contra. Realmente, Rest In Peace PSDB. A mediocridade da oposição é visível a qualquer um que tenha os olhos abertos. Ou até mesmo, fechados.

Mas quando li que o Marcelo votou contra a intolerância, imediatamente pensei que uma das maiores intolerâncias dessa campanha foi o infame debate sobre aborto, levantado pelo campo de Serra.
Autoritarismo? Serra tinha um vice do DEM, antiga Ditadura.
Ideologia Jeca? Qual é a ideologia da coligação Serra-DEM? Ódio?
Peleguismo e aparelhamento? Quer dizer que os outros governos, nacionais, estaduais, municipais não tem isso também? Aliás, um dos males da política brasileira como um todo.

Enfim, se Marcello Serpa, com todo seu currículo e educação pensa assim, não espanta haver tanto preconceito, ódio, intolerância, autoritarismo e ideologia jeca no Brasil.

Sei que não sou perfeito, nem sou dono da verdade, mas tento manter um nível. Tento. Tenho também meus preconceitos e todos os têm, embora a gente às vezes nem saiba quais são. Ter preconceitos faz parte da biologia do ser humano.

E estou citando o Marcelo Serpa como exemplo apenas, pois também me espanto com a opinião de muitos amigos meus, e somos a elite de fato do Brasil. O problema não é votar em Serra, repito. O problema é votar por preconceito. Somos todos a favor de paz, amor, democracia, desde que seja para nós. Desde que não mexam com meus privilégios. E desde que os pobres (vagabundos, todos claro) fiquem no seu cantinho sem nos atrapalhar querendo votar em que mais os favoreceu.

E apesar de tudo isso, fico feliz de ver que muitas pessoas pelas quais tenho imenso afeto conseguem discutir em nível elevado. Mesmo que eu discorde delas, é um prazer discutir com quem tem conteúdo e não preconceito, ou ler um artigo menos inflamado por paixões. Mas com tanta gente agora querendo ir embora do país, a jugar pelas mensagens na internet, quem teve vontade de ir embora fui eu, triste com tão baixo nível.

Quem sabe para a Dinamarca, onde eu teria que lavar meus próprios pratos, entre outras outras coisitas más (talvez uma visão idealizada mas não deve estar longe da verdade):
  • Onde provavelmente eu teria que estacionar meu carro, e não largá-lo na mão de um vallet que nunca vai poder comprar o carro mesmo que economize toda vida.
  • Onde não vou nunca ver mulheres com caras resignadas segurando bandeiras ao sol anunciando prédios.
  • Onde não vou ter que recusar dar esmola para alguém no trânsito, pois não vai haver ninguém pedindo esmola no trânsito.
  • Onde meu prédio não vai ter porteiro e o entregador de pizza vai poder vir até minha porta, e não vou precisar descer e receber a pizza através de uma grade.
  • Onde não vou ver seguranças de terno embaixo de guarda-sóis de uma tal Haganá.
  • Onde vou poder deixar meu carro em casa e andar com transporte público, ou de bicicleta (ok, bicicleta já é utopia para mim =).
  • Onde não pensem que os que recebem ajuda do Estado sejam vagabundos.
  • Onde impostos sejam realmente revertidos em serviços de valor para a população.
  • Onde educação seja realmente valorizada pois é o único caminho para o crescimento sustentado.
  • Onde aborto, sexualidade e religião não sejam tema de campanha.
  • Onde não ter religião seja comum e não visto como um defeito ou aberração.
  • Onde um partido autoritário e retrógrado não se intitule Democrata (nos EUA os democratas são os liberais)
  • Onde o voto não seja obrigatório.
  • Onde as mulheres sejam loiras, de olho azul, altas e liberais/libertinas.

Ok, desconsiderem essa última. No Brasil as mulheres são muito mais bonitas. Mas confesso, tenho preconceito contra feiúra. A feiúra que vem de dentro. Daquela que foi o que mais vi nessa disputa. Que essa feiúra fique para trás.


sexta-feira, outubro 29, 2010

O que aprendi com Preta Gil

Você pode ser feio por fora, mas bonito por dentro. Ou vice-versa. Ou ambos. Ou nenhum.



Contexto: rapaz do interior, solitário, numa cidade grande. Querendo conhecer pessoas e fazer "amizades".

Início: internet

Meio: restaurante / casa

Fim: táxi


Sites de relacionamento. Quem nunca se cadastrou, pelo menos deu uma olhada, nem que seja por curiosidade. Enquanto eu navegava por aí, encontrei um tal de www.hotornot.com. Hot or Not? Você carrega uma foto sua ali, ela é revisada por uma pessoa real para garantir que não contenha pornografia/etc, e quando a foto é aprovada, as pessoas começam a te dar nota, de 1 a 10. É como uma pesquisa pra saber se você está, literalmente, bem na foto. Porque foto na internet a gente sabe como é. Nos esforçamos para encontrar aquela em que o ângulo esteja ok, o sorriso perfeito, o cabelo arrumado, e por aí vai. Eu também tento fazer o meu melhor, sem destoar muito da realidade - ou seja, minha foto é essa coisa mesmo que você está vendo aí.

Buenas. Mas o legal é que você também fica dando nota pros pobres diabos como eu que se sujeitam a essa pesquisa. Os números de 1 a 10 representam coisas diferentes para pessoas diferentes, mas no geral há uma certa concordância quanto ao que é bonito e feio (tema para outro post sobre psicologia evolucionária). E todos temos curiosidade em saber como somos vistos. Então achei divertido. 

A dura realidade. Depois de algumas avaliações você já pode ver sua média (por ex. 8) e sua posição: "você é mais quente [hotter] do que 78% dos homens neste site". Estes são os dados atuais do meu perfil e me deixam feliz até. E isso só pode significar que 1) as pessoas têm um péssimo senso de beleza, ou 2) minha foto está tão boa que na verdade os que me avaliam estão avaliando outra pessoa e não o eu "real". Me recuso a acreditar na segunda.

Tudo isso para dizer que você também pode se comunicar de uma forma rudimentar com quem você achar bonito. Não lembro se eu a procurei ou ela me achou. Sei que trocamos e-mails e começamos a conversar no msn. A bem da verdade, a foto dela no hotornot estava meio difusa, uma foto de cima para baixo, ela dentro de uma piscina escorada na borda, com óculos escuros e só as mãos para fora. Sinais claros de que 1) há algo a esconder ou 2) sou tão segura de mim que não preciso colocar uma foto excelente. Me recusei a acreditar na primeira. E eu estava certo, como você vai ver.

Após algumas conversas, chegou o momento do convite para jantar. Fiquei super animado e comentei com um amigo, e ele naturalmente quis ver a foto da moçoila. Os olhos de lince dele focaram na única parte do corpo exposta de forma clara: as mãos. E vaticinou: cuidado que ela tem mãozinha gorda. Mas essa é uma avaliação muito subjetiva. E eu não ia desmarcar o jantar porque um amigo achou que a mãozinha estava meio gorda. Vamos dar o benefício da dúvida.

E lá fui, disposto até a ir a um lugar meio distante, em uma cidade enorme. Fui anunciado na portaria do prédio e me instruíram a aguardar no lobby. O momento da verdade estava muito próximo. A tensão atinge o pico quando a porta do elevador se abre. Quem viria lá de dentro? Que surpresas (boas) estariam me aguardando?

Vamos ver em câmera lenta agora. 

O barulho do elevador aportando no térreo. djjjjjjjjjjjjjjjjjjmmmmmm

A primeira visão do braço empurrando a porta de aço. squeeeeeeeeeeeeeeek

E, finalmente, a pessoa por inteiro. Tã-rã!

Putz, mas tanta tensão por nada. Não era ela. Ufa! Por que se fosse, eu estaria muito enrascado - digamos que essa pessoa era grande em todos sentidos (horizontal e vertical). Tudo bem vamos esperar mais um pouco. Mulher sempre atrasa, diz que está descendo mas ainda vai fazer a chapinha. Enquanto isso fiquei observando a pessoa se aproximar, o elevador estava distante, e seguindo regras básicas da civilização, esbocei um sorriso e um boa noite.

No entanto - sempre há um no entanto - a pessoa vinha diretamente à mim, e a cada passo sorria um pouco mais. Eu sorri também, por educação. Mas a pessoa estava sorrindo muito. Eu já estava constrangido, pois parecia que a pessoa estava me esperando. E foi chegando. E foi sorrindo. E foi chegando. E foi sorrindo. E foi chegando. Chegando. Chegando.

Chegou.

- Oiiiii
- Hmmm.. oi
- Frederico? [o nome do meu amigo]
- Hmmm.. sim
- Eu sou a [Preta Gil, eu pensei. Só pode ser brincadeira isso aqui. É uma pegadinha! Cadê a câmera?]
- Hmmm.. ahhhh.. claro... hehe... [Beijinho, beijinho] [E agora? E agora? Se eu seguisse a brilhante dica de um amigo escolado em furadas, teria inventado uma imensa dor de barriga na hora, adiando o encontro para outro dia - o dia de amanhã, eternamente o dia de amanhã]
- Então, vamos?
- Hmmm.. ah sim... claro.. vamos...

Tenho que aprender a dizer não. Foi a única coisa que ficou na minha mente em todo trajeto até o restaurante, cuidadosamente escolhido. Agora já era tarde. Bater o carro estava fora de questão. Então o melhor que podemos fazer é encarar como uma oportunidade de reflexão, uma reflexão cara, mas ainda assim uma reflexão.

Conversando sobre nós mesmos, fico sabendo que ela é modelo. Rá, tem senso de humor a menina. Mas olho para o lado e percebo que ela falou sério. Pensei: até pode ser, já vi anúncios em que usam mulheres não exatamente no melhor de sua forma, para ficarmos num eufemismo. Melhor não entrar nesse papo.

Por algum motivo, ao chegar no restaurante, ela fica indecisa e diz que não está a fim de ir no que escolhi. Foi talvez a única coisa certa que ela fez naquela noite. E sugeriu um estilo cantina, menos bacanudo e mais barato. Agradeci em voz baixa. E rumamos. O jantar até foi engraçado, eu pude comer sem me preocupar em puxar assunto pois ela puxava todos assuntos. Puxava, desenvolvia, acabava e puxava outro. Em resumo, ela era amiga de pessoas famosas, e era desejada por um cara extremamente rico, que já tinha proposto casamento. Questionei a sanidade desse cara, mas vai saber. Talvez eu só precisasse vê-la com outros olhos. Deixar os preconceitos de lado, buscar a beleza interior. Sim, eu teria que buscar bem fundo, quase uma busca à um tesouro afundado no mar a 15 mil metros de profundidade sem equipamento de mergulho. Mas quem disse que isso é impossível (fora as leis imutáveis da física)?

Acaba o jantar e chega a hora tão aguardada. Levar a moça embora, voltar para casa e nunca mais aceitar sair com uma pessoa cuja única foto é dentro de uma piscina só com as mãos para fora. Ou melhor, nunca mais sair com ninguém só baseado na foto. Ou melhor, nunca mais sair com ninguém conhecido através de um site de relacionamento.

Já no carro, pergunto:

- Bom, então vamos para...
- Vamos pra sua casa?
- É, hmmm, ahhh, hmmmm
- É perto?
- Ahhh hmmm hummmmm
- Depois você me leva pra minha casa.

Esse foi o segundo momento da noite em que lembrei da necessidade absoluta de desenvolver a capacidade essencial de dizer não no momento certo. Movido agora por uma curiosidade sobre até onde essa história me levaria, fui pra casa. Rezando para que o meu amigo, com quem divido o apartamento não estivesse acordado. Ele não ia se aguentar. Tenho certeza que ia me chamar num canto e me dar uns bofetões pra deixar de ser banzo. Mas ele já estava dormindo. Era um dia de semana.

Chegou um momento em que o papo acabou. Eu já tinha ido tão longe, a história já estava tão trágica, que agora iríamos em frente. Sim, nos beijamos. Ela quis ir para o quarto. Medo. Não vou contar detalhes, por respeito a você, leitor, que teve força suficiente para ler este post gigante até aqui. Mas posso sim revelar que não houve o que você está pensando que houve. O que ocorreu foi um momento único, que desde aquele momento entitulei de "conchinha". Não tenho como representar essa "conchinha" mimicamente. Então, use sua imaginação e visualize o que entitulo a partir de agora como o momento "conchão". Pense numa sequóia, a qual você nunca vai conseguir abraçar por inteiro, a não ser que seja o homem elástico.

A noite passou e não consegui dormir direito na posição "conchão". Acordei bem antes do horário usual, mas nem um pouco disposto a levar a Preta Gil para casa novamente. Inventei então que estava atrasado, dei carona até chegar ao meu trabalho, parei no ponto de taxi que há em frente, rezando para que nenhum colega tivesse resolvido acordar antes e chegar naquele horário. Dei R$ 50 a ela pra pagar o táxi, o que representou o maior custo benefício entre todos meus gastos até então.

Dias depois ela me liga dizendo que precisa devolver o troco (???). Digo que não posso, mas que se ela fizer questão, pode deixar aqui na portaria e me entregam.

O que eu não contei e vou contar agora para vocês entenderem melhor a Preta Gil é o tipo de coisas que ela me disse:

- "Teu carro está bem velho né. Tá na hora de trocar."
- "Ah a essa altura você já deveria ter comprado um apartamento. Meu amigo tem um apartamento de R$ 10 milhões aqui perto"
- "Essa tua camisa não tá mais na moda, o legal agora são as camisas do jacaré"

Como eu não estava a fim de DR sem ter o R, não dei continuidade. Nem à conversa nem ao R. Só pensei: quem essa mulher acha que é? A vontade era de falar tudo que eu achava que ela deveria mudar. Mas ia demorar muito. Ou não, na verdade, ela tinha que mudar tudo, nascer de novo com outro DNA.

O que eu aprendi então com a Preta Gil é o seguinte:

A pior combinação possível para o ser humano é ser feio por dentro e por fora. O "por fora" até se ajeita. Mas o "por dentro", nem com operação de transplante.