quinta-feira, dezembro 28, 2006

A fina sintonia

Raramente nos damos conta do quão frágeis nós somos. Nosso corpo é uma máquina intrincada, com milhões de partes e engrenagens. E poucas vezes, ou poucos de nós, passamos por doenças realmente sérias. A questão não é porque temos tantas doenças, e sim, por que não temos MAIS doenças?

Que nossos corpos passem a maior parte do tempo funcionando bem, isso sim é algo próximo a um milagre. É simplesmente muita coisa que pode dar errado e no entanto não é o que acontece - nossa biologia certamente não segue a Lei de Murphy. Claro, praticamente todos têm algum problema ou outro, mas em 95% do tempo estamos bem. Agora, é só aparecer uma dor de estômago (ou "estongo" como dizem alguns) para a gente esquecer de todo o resto e se concentrar na dor. E só então nos damos conta do pouco que é necessário para nos tirar do combate.

Que uma pequena pílula possa combater essa dor, ou que possa alterar completamente nossa percepção ou até mesmo nos matar, isso me parece ainda mais fascinante. Compare nosso tamanho com a de uma cápsula e reflita um pouco sobre isso. Mas nada é mais impressionante do que perceber que coisas muito, mas muito menores, podem nos fazer muito mal: são milhões e milhões de espécies de vírus e bactérias e seres afins, prontos para nos detonar ao mínimo sinal.

E a medicina, apesar de todos avanços, ainda sabe muito pouco. Não conseguimos explicar até agora como a maior parte das drogas psicotrópicas funcionam (prozac, valium , anti-depressivos e etc.). Estamos ainda engatinhando.

Tudo isso para dizer que há algumas semanas passei muito mal, com dores horríveis e diarréia. Tenho certeza que vocês não querem detalhes do tipo quantas vezes fui ao banheiro ou como certamente bati o recorde mundial de volume de flatulência por minuto. Basta dizer que tive que pedir a minha irmã que me levasse ao hospital de madrugada. Sim, certamente lá eles saberiam aliviar minha dor. Que nada! Não fizeram nenhum exame, somente a tradicional consulta (anamnese é o nome que os "doutores" usam) e um pouco de apalpação (existe?) na barriga.

Me botaram numa sala com umas 5 senhoras tomando soro, me deram Buscopan na veia e soro fisiológico pois eu já estava desidratado. Uma hora depois a dor retornou com força total e a doutora simplesmente olha minha ficha, preparada por outra médica, e me avisa que minha "disenteria" não é de origem infecciosa ou algo assim. Bom, mas então vem daonde? E qual a solução? "Espera que passa". Extremamente reconfortante e sofisticado! Com todo avanços, não conseguem tratar uma dor de barriga. Voltei pra casa com dor e passei mais uns 4 ou 5 dias "ca**ndo água" como definiu com muita elegância um amigo meu.

Moral da história: da próxima vez vou rezar para pegar uma pneumonia ou sífilis, que pelo menos têm um tratamento mais sofisticado do que "espera que passa".

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